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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Imaginem o mundo sem escritor...


Não quero nem pensar como seria o mundo sem escritor. Talvez reinasse ainda a oralidade ou existisse outra forma de passar essa riqueza, por telepatia?

O fato é que se nada fosse registrado não teríamos como chegar a esses registros fantásticos, os quais, alguém escreveu sobre alguém e eu fui e transcrevi para este espaço de Leitura e contexto, a fim de compartilhar e possibilitar que mais alguém conheça e depois também escreva a respeito, de forma que a coisa se perpetue. Uma tarefa sem fim, uma corrente com muitos elos, em que cada um vai se ligando, conforme a leitura e o contexto. Infinita! É a citação da citação da citação, fantástico! 

E tudo isso que vem a seguir só foi possível em função de raros exemplares da Revista Leia, editada pela Joruês, que mantenho até hoje em meu acervo particular. Faço questão de referenciar cada matéria.

Parabéns a todos os escritores citados aqui nesse recorte do tempo (1989/1990) e a todos os outros, desde os mais remotos à atualidade.





John Updike, em entrevista à Vera Fonseca, confessando a sua vontade de se esconder por intermédio da escrita, em função do seu contexto particular:

"Minha vontade de ser escritor estava relacionada com minha vontade de não ser visto por ninguém."

ENTREVISTA John Updike: O americano tranquilo. Entrevista concedida à Vera Fonseca. Revista Leia, São Paulo, v. 11, n. 133, p. 3-8, nov. 1989.





Flaubert, em carta, referindo-se à obra que escrevera Madame Bovary, realçando momento de êxtase que sentiu:

"Como é delicioso escrever, como é gratificante não ser mais eu, mas poder me movimentar por todo o universo sobre o qual estou falando. Veja o que me aconteceu hoje, por exemplo: eu era homem e mulher, dois amantes ao mesmo tempo; cavalguei por uma floresta em uma tarde de outono, sob as folhas amarelas, e eu era os cavalos, as folhas, o vento, as palavras que ele e ela falavam, e o sol inclemente, que castigava suas pálpebras semicerradas, já carregadas de paixão."

McCARTHY, Mary. Madame Bovary não era Flaubert. Revista Leia, São Paulo, v. 11, n. 133, p. 43-46, nov. 1989.



João Ubaldo Ribeiro, respondendo à entrevista de Isa Pessoa, em relação à competição do meio:

"[...] Para mim, todo escritor deve falar do que ele quer falar. O escritor deve escrever. Precisa escrever muito para depois escrever o que quer escrever. O resto são coisas que escapam à avaliação dos seus contemporâneos, dos críticos. Sou meio fatalista em relação a estas coisas."

ENTREVISTA João Ubaldo Ribeiro: O que é que o baiano tem? Entrevista concedida à Isa Pessoa. Revista Leia, São Paulo, v. 12, n. 134, p. 3-7, dez.1989.





Lygia Fagundes Telles, desabafando em matéria que fala acerca dos direitos autorais e tudo mais...

"A profissão é que me corta as asas. Não dá para ser profissional em um país com uma massa colossal de analfabetos e imensa miséria. Se aqui a vida já é um artigo de luxo, imagine então o que são os livros."

GONTOW, Airton. Os Novos negócios do escritor. Revista Leia, São Paulo, v. 11, n. 138, p. 19-24, abr.1990.





Dylan Thomas, em questionário respondido a um estudante universitário, que desenvolvia uma tese sobre a obra poética do autor:

"Eu já sentia e conhecia a substância das palavras; o que faria com elas, e o que diria através delas, viria mais tarde. Sabia que me tornaria escritor, e nada mais". p-25- 28

DOCUMENTO Dylan Thomas: Retrato do artista quando jovem cão. Revista Leia, São Paulo, v. 11, n. 138, p. 25-28, abr. 1990.





Mario Vargas Llosa, reportando-se ao momento em que leu Os Miseráveis, de Victor Hugo, quando estava no internato militar:

"Era um grande refúgio fugir para ali, aquela vida mentirosa e esplêndida dava forças para suportar a vida verdadeira, tão átona. Mas a riqueza da ficção fazia também com que a realidade parecesse mais pobre. [...] Eu sei, por exemplo, que naquele inverno de 50, com uniforme, garoa e neblina, graças a Os miseráveis a vida foi para mim muito menos miserável."

DOCUMENTO Vargas Llosa: O último leitor de Os Miseráveis. Tradução de Teresa Cristófani Barreto. Revista Leia, São Paulo, v. 12, n. 139, p. 29-32, maio 1990.



2 comentários:

  1. Ana,
    Excelente e oportuna postagem. Quem possui o dom de, através de palavras, sonhar e fazer sonhar, viver e fazer morrer,renascendo depois; consegue ser todos em um só, é algo como ser o "plural do singular".

    Pedrp

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    1. Conhece bem, heim? Espírito, alma, coração, cabeça e mão de escritor.

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