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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Arquivo pessoal: revelações de toda sorte


Os arquivos pessoais pressupõem os registros, os testemunhos e as lembranças da vida íntima, familiar, profissional e em sociedade, tendo como centro a pessoa produtora do arquivo e como limites a atitude de quem os selecionou. Portanto, não é tudo que se viveu, mas, o que foi selecionado para a memória dentro de um critério contextual ou ainda o que resistiu ao tempo, mesmo sem a intenção de acumulação.

Afora os documentos comuns, eu diria, os que se referem às atividades meio, ou seja, aqueles que todos nós acumulamos e/ou temos que preservá-los enquanto cidadãos e pessoas físicas, tais como obrigações legais, financeiras, profissionais, fiscais e sociais, há aqueles que identificam e caracterizam a pessoa que os acumulou. São documentos que expressam a subjetividade da pessoa, que, embora enquanto viva, só interessem a ela mesma, podem, no futuro, vir a ser fonte de recordação para a família ou úteis para a sociedade como valiosa fonte de pesquisa, pois revelam hábitos, costumes, momentos e cenários, que se revestem de memória e história.

Sendo assim, eles podem ser classificados por intermédio de dispositivo legal como sendo de interesse público e social, ainda mais quando se trata de figura de repercussão nacional e mundial.


Na matéria "Tudo o que sempre quisemos saber sobre Hemingway e nunca tivemos coragem de perguntar", de Inês Nadais, publicada em 16/02/2014, verifica-se a riqueza de detalhes, de particularidades que um arquivo pessoal pode conter, são revelações de toda sorte sobre o escritor.

A autora da matéria usa a expressão certeira "espreitar pelo buraco da fechadura", referindo-se às informações e revelações contidas nos 2.500 documentos que estavam armazenados durante décadas na casa onde Hemingway viveu de 1939 a 1960, na Finca Vigía, nos arredores de Havana, hoje Museu Ernest Hemingway.

Conhecer o seu arquivo pessoal é conhecer mais sobre Hemingway, é fazer a leitura do que há de comum ou de diferente na pessoa do escritor, é entender o contexto que o autor, sem intenção, explica para o mundo, depois de sua partida.




A receita do seu hambúrguer, a fatura da compra de um Buick Super Station Wagon, a licença de porte de arma emitida pelo Governo cubano, bilhetes de touradas a que assistiu na Espanha, telegramas importantes, correspondência pessoal, diários, manuscritos originais, postais de Natal, passaportes, contas da mercearia, da oficina, da livraria e do bar, notas de encomenda, extratos bancários e mais de nove mil livros anotados à mão, tudo agora faz parte do acervo da Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy e está digitalizado e acessível para pesquisa.



"Factura do Buick que o escritor comprou em Key West, na Florida, em 1959 
ERNEST HEMINGWAY PAPERS COLLECTION/MUSEUM ERNEST HEMINGWAY FINCA VIGÍA" 

Em comunicado à imprensa, o diretor da biblioteca, Tom Putman, registrou:


'Congratulamo-nos por disponibilizar aos investigadores cópias destes materiais que permitem um vislumbre único do quotidiano de Hemingway. Tratando-se, como se trata, de uma figura literária frequentemente retratada como maior do que a vida, este acervo serve para humanizar o homem e para compreender o escritor'.

Obras de Ernest Hemingway
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