Segundo Bautier, citado por Cruz Mundet (1994), a história da evolução dos arquivos é dividida em quatro períodos:
a época dos arquivos de palácio, que corresponde em termos gerais à
Antigüidade; a época dos cartórios, abarcando os séculos XII a XVI; a época dos
arquivos como arsenal de autoridade, que se estende por todo o Antigo Regime,
desde o século XVI ao século XIX; e a época dos arquivos como laboratório da
história, desde o início do século XIX até meados do século XX.
Fazendo diversas leituras e desenvolvendo cada período, conforme o contexto, têm-se os trechos abaixo.
Fazendo diversas leituras e desenvolvendo cada período, conforme o contexto, têm-se os trechos abaixo.
Na Antiguidade (Suméria,
Grécia e Roma), os arquivos tinham a função de representar a gestão do poder e
eram tidos como lugar de conservação de documentos autênticos. A necessidade de
guardar os registros referentes a cobrança de impostos, empréstimos e inventários, ordens
administrativas, tratados comerciais e políticos, decretos, plebiscitos, atas,
contas públicas, leis, documentos judiciais e testamentos, era puramente
prática e administrativa, fazendo com que existissem grandes depósitos, ora os
próprios templos, ora construções denominadas especificamente como archeion, na Grécia e Tabularium, em Roma.
A razão da grande dimensão
dessas construções, além do próprio caráter imponente e monumental que se
revestia a arquitetura da época, dava-se pelo suporte do documento, tabuletas
de argila ou papiro embutido em grandes frascos cerâmicos e cestos, para
conservação do documento. Essas construções garantiam a segurança do documento
ali depositado, para servir de testemunho, outra função dos arquivos da época,
caracterizados como públicos: do governo e para o governo.
Há uma mudança na conotação
dos arquivos públicos, após o período clássico, quando passam a servir para responder aos direitos e obrigações dos cidadãos comuns, garantindo os direitos
patrimoniais privados, por intermédio do Direito Romano, que institui o documento de
arquivo com o valor de fé pública, assegurando-lhe a autenticidade por meio de
empregados especiais.
A queda do Império Romano
provoca a decadência da cultura e, conseqüentemente, do documento escrito e os
arquivos públicos deixam de existir, passando o controle da documentação para a
monarquia, nobreza e Igreja, são os arquivos monásticos, senhoriais e
eclesiásticos, que fixam a sede dos governos. Os documentos, tratados
isoladamente, são verdadeiros tesouros, que garantem o titulo de propriedades
durante a Idade Média.
Somente após a retomada do
Direito Romano, o documento volta a ter o valor jurídico e o sentido de
conjunto (orgânico e indivisível) e junto aos documentos públicos se constituem
os documentos privados, que adquirem valor legal, quando validados por um
tabelião.
Do século XVI ao século XIX, na
Europa, os arquivos eram considerados um conjunto de armas políticas e
jurídicas, um arsenal de autoridade, a serviço dos monarcas. Foi a época da constituição dos arquivos
centrais de estado, considerados secretos e misteriosos para o povo.
Com o Renascimento, o aumento
do comércio, a difusão das línguas vernáculas e o uso do papel, surgem os
intelectuais e a administração central cria a rede de arquivos, surgindo a
necessidade de “informar-se”. Com esse crescimento também surgem a necessidade
da descrição documental, para possibilitar a intermediação entre o arquivo e o
usuário em nível acadêmico, nascem, então, os primeiros expedientes numerados e um quadro de classificação
rudimentar.
Mas, os arquivos do início da
Idade Moderna serviam exclusivamente para guardar os documentos,
como instrumentos da administração, os quais eram utilizados somente para interesse do governo (arquivos reais). Os
arquivos, portanto, são nacionais e públicos, com historiadores e construtores
da identidade do Estado-nação. Essa ideia de arquivo prevaleceu até o final do
século XVIII.
Ao final vem a preocupação de se estudar os princípios
teóricos fundamentais nas escolas especializadas de formação, pois devido à centralização, foram necessários ajustes metodológicos, culminando no estudo e definição da rotina arquivística.
Na Idade Contemporânea, com a ampliação do domínio dos arquivos, já se evidenciam duas funções distintas: a gestão de documentos administrativos e a administração de documentos históricos permanentes, que, mais tarde culminaria no conceito de arquivística integrada .
Na Idade Contemporânea, com a ampliação do domínio dos arquivos, já se evidenciam duas funções distintas: a gestão de documentos administrativos e a administração de documentos históricos permanentes, que, mais tarde culminaria no conceito de arquivística integrada .
Hoje
os arquivos têm o objetivo de tratar os documentos desde a sua gênese,
acompanhando todo o seu desenvolvimento na organização, para cumprir a função
de produzir a informação, totalmente direcionada aos usuários e servindo à
sociedade.
A
Arquivística como ciência remonta do século XIX, como ciência auxiliar da
história, paralela ao desenvolvimento das ciências históricas e com a criação
das primeiras escolas de arquivistas, utilizando ciência e técnica para se
desenvolver, apoiando-se em suportes científicos e de outras ciências, para
construção paulatina de uma ciência própria.
A partir do século XX, há uma abertura em relação à atuação dos arquivos, que servem tanto à administração, como aos cidadãos e
pesquisadores, consolidando o conceito de arquivística integrada.
Foto de Filipe Araújo/AE
Prédio é revestido para proteger material dos raios solares e do calor
Conforme o contexto em que eram inseridos, os arquivos foram evoluindo e se transformando, sempre contribuido para o entendimento da história e da sociedade.
CRUZ MUNDET, José Ramón. Manual de archivística. 3. ed. Madrid : Fundación Germán Sánches Ruipérez, 1994.
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