terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Biblioteca e livros na Marquês de Sapucaí


Um carro alegórico representando uma biblioteca foi, na minha opinião, o maior destaque deste Carnaval de 2015.





Unidos da Tijuca apresentou o enredo "Um conto marcado no tempo - 'O olhar suíço de Clóvis Bornay'." A Escola de Samba levou para a Sapucaí um enredo sobre a Suíça, uma homenagem a um dos mais importantes foliões do carnaval do Rio de Janeiro, Clóvis Bornay.




Cheia de significados foi a apresentação, em que todo o desenrolar do tema, "Um conto marcado no tempo - 'O olhar suíço de Clóvis Bornay'" se dá a partir do poder do livro e da leitura em transportar Clóvis Bornay criança, para épocas e lugares, conhecendo personagens e coisas incríveis, que fizeram parte tanto do imaginário, como da história real. 

Depois, já como um folião, desfila na Sapucaí sob o fascínio dos contos da Suíça, mas, também encantado com o "lugar de cores e riquezas mil, são os laços Suíça-Tijuca-Brasil."

O tema do enredo foi desenvolvido a partir de contos que descreveram um pouco da história da Suíça, detalhando sua cultura, invenções, tecnologia e seus personagens, conforme o olhar de Clóvis Bornay, filho de um suíço e figura representativa do carnaval carioca, que se destacou nos concursos de fantasias do Theatro Municipal, no Copacabana Palace e no Hotel Glória.

Na exibição da comissão de frente, um personagem representando Clóvis Bornay apareceu à frente de uma biblioteca. Conforme ele recordava a infância, os livros ganhavam vida e viravam personagens. 




O desfile começou mostrando o contexto de várias lendas suíças, que marcaram o imaginário do país desde sua formação. O abre-alas, um dos maiores carros a passar pela Sapucaí, com cerca de 50 metros, representava a leitura das lendas de cavaleiros e dragões. 

"Ainda me lembro, sentado aos pés do meu pai... entre as páginas dos livros, ouvindo suas histórias de uma terra mágica, viajava nos contos encantados que davam vida aos cavaleiros medievais montados em ginetes, cavalgando em direção aos montes gelados e brancos. Dragões alados sobrevoavam castelos e aldeias, o povo aterrorizado, fez um pacto até mesmo com o diabo para construir uma ponte e, assim, seguir seu caminho. Minha imaginação me embalava; eu ali estava, guardado pelas emoções, o tempo não passava. Os ponteiros do relógio bailavam em prosa e verso, eu ali continuava, despertando personagens sem fronteiras nesse universo." [...]  Conheça a sinopse completa

Sem medo



Da janela do meu quarto registrei um pássaro, posando na ponta de uma haste de palmeira e depois, sem medo, desafiou a haste mais alta, indo para o cume daquela palma que ainda não abriu, a céu aberto.

Daí fiz a seguinte leitura desse contexto, estou aqui no presente, mas, o futuro é bem ali, a vida é tão efêmera, e os desafios são tantos (ameaças/oportunidades), que, às vezes, temos que dar uma de pássaro, deixar o medo e as incertezas para trás (pontos fracos), maximizar as nossas qualidades (pontos fortes), voar para um galho mais alto e, quiçá, ficar de olho naquele que ainda está para nascer (oportunidades), sob pena de alguém vir antes e ocupá-lo, sem deixar espaço (ameaças).





sábado, 14 de fevereiro de 2015

Cenário Carnaval

Neste Carnaval nada melhor que trazer à tona livros que retratam esta festa popular. São contextos variados, mas a leitura é carnavalesca.

Um deles começa com o Carnaval...


Dona Flor e seus dois maridos 
Jorge Amado 


Num domingo de Carnaval, Vadinho parou de sambar e caiu duro. Uma vida de boemia chegava ao fim: cachaça, jogatina e noites de esbórnia arruinaram o jovem malandro. Dona Flor acorreu em prantos ao corpo do marido, fantasiado de baiana. Em sete anos de casamento, sofrera com as safadezas de Vadinho, mas o amava.

Viúva, Florípedes Guimarães concentra-se nas aulas de cozinha na escola Sabor e Arte. Um ano depois da morte de Vadinho, porém, o desejo do corpo lhe incendeia o recato da alma.

O farmacêutico Teodoro Madureira surge como pretendente. Do namoro e de um noivado pudico, eles passam ao casamento. Cerimonioso e equilibrado, o segundo marido é o oposto do primeiro. Dr. Teodoro vive para a farmácia e para os ensaios de fagote. Flor é feliz com ele, mas sente um vazio que não sabe definir. 

Certa noite, depois de um ano de casada, dona Flor toma um susto: Vadinho está nu, deitado na cama, rindo e acenando para ela. O fantasma do malandro passa a viver com o casal. 

No melhor estilo de crônica de costumes, Dona Flor e seus dois maridos descreve a vida noturna de Salvador, seus cassinos e cabarés, a culinária baiana, os ritos do candomblé e o convívio entre políticos, doutores, poetas, prostitutas e malandros. 

Uma das mais conhecidas personagens femininas do autor, dona Flor encarna contradições bem brasileiras. Dividida entre o fiel e comedido Teodoro e o extravagante e voluptuoso Vadinho, ela decide viver o melhor de dois mundos. 

A narrativa faz um retrato inventivo e bem-humorado das ambiguidades que marcam o Brasil, país dividido entre o compromisso e o prazer, a alegria e a seriedade, o trabalho e a malandragem. 

Fonte e resenha: Site Jorge Amado


Outro, discorre sobre um certo Baile Verde...


Antes do Baile Verde
Lygia Fagundes Telles


Uma jovem se prepara para ir a um baile carnavalesco onde as fantasias devem ser todas verdes. Enquanto ela se maquia para o baile, colocando lantejoulas no saiote verde que cobre o biquíni, seu pai agoniza no quarto ao lado. Esse ambiente teatral e angustiante do conto 'Antes do baile verde' dá a tônica do livro homônimo. 

'Antes do Baile Verde' (publicado em 1970 e traduzido para o tcheco, o russo e o francês) é um dos livros mais marcantes da carreira de Lygia Fagundes Telles. Os contos, escritos entre 1949 e 1969, deixam claro para o leitor por que a autora é uma das mais representativas e premiadas escritoras brasileiras em atividade. Estão presentes no livro algumas histórias emblemáticas como 'O jardim selvagem' e 'Meia-noite em ponto em Xangai'. 

Narrativas turbulentas, de diálogos cuidadosamente esculpidos e marcadas por finais em aberto, como no conto 'Natal na barca', em que uma mulher atravessa o rio com o filho no colo, sem que o leitor saiba se a criança está mesmo viva. Os finais das histórias de Lygia provocam o imaginário do leitor. Há sempre uma cartada, uma surpresa, um susto.

A autora demonstra uma coragem singular para trabalhar pontos mais delicados da condição humana através de personagens cínicos, amargos e, principalmente, cruéis como no clássico conto 'Apenas um saxofone', onde uma mulher pede ao amante que se mate como prova de amor.

Fonte e resenha: Saraiva


Tem um que ressalta a alienação do povo no período carnavalesco e temas como mestiçagem e racismo, cultura popular e atuação política ... 


O país do Carnaval 
Jorge Amado


Primeiro romance de Jorge Amado, O país do Carnaval faz um retrato crítico e investigativo da imagem festiva e contraditória do Brasil, a partir do olhar do personagem Paulo Rigger, um brasileiro que não se identifica com o país. 

Filho de um rico produtor de cacau, Rigger volta ao Brasil depois de sete anos estudando direito em Paris. Num retorno marcado pela inquietação existencial, ele se une a um grupo de intelectuais de Salvador, com o qual passa a discutir questões sobre amor, política, religião e filosofia. Dúvidas sobre os rumos do país ocupam o grupo.

O protagonista mantém uma relação de estranhamento com o Brasil do Carnaval, acredita que a festa popular mantém o povo alienado. Os exageros e a informalidade brasileira são motivo de espanto, apesar de a proximidade com o povo durante as festas nas ruas fazer com que ele se sinta verdadeiramente brasileiro. Aturdido pelas contradições, Rigger decide voltar para a Europa.

Mestiçagem e racismo, cultura popular e atuação política são alguns dos temas de Jorge Amado que aparecem aqui em estado embrionário. Brutalidade e celebração revelam-se, neste romance de juventude, linhas de força cruciais de uma literatura que se empenhou em caracterizar e decifrar o enigma brasileiro.

Fonte e resenha: Site Jorge Amado


Nesse outro, o autor enfoca o Carnaval do Rio de Janeiro, misturando todas as épocas...


Carnaval no fogo
Rui Castro


Carnaval no fogo não é um livro sobre Carnaval. Sua ação se passa em todas as épocas do ano e em todos os quinhentos anos da agitada história do Rio - da primeira índia tupinambá que namorou um pirata francês aos réveillons de Copacabana. Ruy Castro compõe um vibrante retrato do Rio de hoje, cheio de viagens ao passado, para revelar que, mesmo nos períodos de calmaria, havia sempre uma excitação no ar - um permanente "Carnaval no fogo". 

Quem se lembra que, na Belle Époque carioca, de 1890 a 1914, quando poetas de colarinho duro flertavam com senhoritas de anquinhas na porta da Colombo, eclodiram revoltas que quase destruíram a cidade? E quem diria que as calçadas com desenho de ondas em Copacabana, famosas pela sensualidade, foram batizadas com o sangue dos "18 do Forte" enquanto a poucos metros se construía o Copacabana Palace? E quem acredita que, mais de cem anos antes das garotas de Ipanema, já havia as garotas da rua do Ouvidor - as primeiras brasileiras que saíram à rua e aprenderam tudo com as francesas?

O Rio de Janeiro de Carnaval no fogo é o Rio dos antropófagos que encantaram os intelectuais europeus, dos escravos que se vestiam como os senhores, dos fotógrafos pioneiros que o clicaram como se estivessem num avião - setenta anos antes de o avião existir -, da loura Nair de Teffé e da mulata Chiquinha Gonzaga, que, juntas, abalaram as estruturas. É também o Rio em que os salões se prolongaram nos botequins, em que um cafezinho tomado em pé na avenida Rio Branco podia alterar a cotação mundial do produto e em que o povo, habituado à própria pele, passou a desfilar quase nu pelas praias e até pelos restaurantes. É ainda o Rio das asas-deltas, do Fla-Flu entre os traficantes e a polícia, do bolinho de aipim e do indestrutível bom humor. 

Carnaval no fogo é a história dessa fascinante superação do povo carioca - até hoje.

Fonte e resenha: Companhia das Letras


Há também uma tragédia grega, que vai parar em uma favela carioca...


Orfeu da Conceição
Vinícius de Moraes


Tragédia carioca", Orfeu da Conceição transporta para um cenário tipicamente brasileiro o mito de Orfeu, filho de Apolo, uma das histórias mais emblemáticas da vasta mitologia grega. Imerso em sofrimento depois da morte da amada Eurídice, o músico vê-se incapaz de entoar suas canções, pois os sons melodiosos e tristes de sua lira não o consolam da perda do grande amor. Desesperado, Orfeu decide descer ao Hades (o reino dos mortos) para trazer Eurídice de volta à terra.

Ambientada em uma favela carioca, Orfeu da Conceição estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1956, com enorme sucesso. Nada mais justo: com músicas de Tom Jobim - a peça inclusive inauguraria a fecunda parceria entre o poeta e o compositor -, cenários de Oscar Niemeyer e figurinos de Lila Bôscoli, o texto é ainda hoje um marco na releitura inteligente dos mitos gregos diante da realidade social, da mistura entre poesia e música popular, entre teatro e canção.

Fonte e resenha: Companhia das Letras


Mais esse, que retrata a transformação da festa ao longo dos anos, em três cidades diferentes...


Inventando carnavais
Felipe Ferreira


Carnaval é festa civilizatória. Seu febril reinado sobre os homens é antigo e vasto. Loucura coletiva e multifacetada, paradoxalmente regrada, a um só tempo brincadeira e coisa séria, incitando a paixão vivê-la e desafiando a razão a entendê-la. 'Inventando Carnavais' nos conduz ao século XX, pelos meandros da conformação da festa em três diferentes cidades. Duas delas européias: a Paris ostentatória e hierarquizada, que baila e brilha com seu carnaval então hegemônico no continente; e a mediterrânea Nice, recém-incorporada à França, que logo define seu belo Carnaval como foco de atração de viajantes. A terceira das Américas: o Rio de Janeiro, capital do Império e, logo em seguida, da nascente República brasileira, com seus carnavais múltiplos e em mútua relação, num jogo tenso de interinfluências entre diferentes camadas e grupos sociais. Cidades em transformação, carnavais em transformação.

Fonte e resenha: Saraiva


E, finalmente, não que não existam mais opções, mas, resolvo encerrar por aqui, um livro de teoria literária, completando, assim, vários estilos literários.


Nelson Rodrigues: o freudismo e o carnaval nos teatros modernos
Victor H. A. Pereira


Nos textos deste livro, o autor procura estar atento às apropriações de referências psicanalíticas por Nelson Rodrigues, que dialogou frequentemente com diferentes discursos sobre a natureza humana e sobre os valores envolvidos na existência. Examina, também, a estilização destas apropriações, bem como o tratamento paródico a que são submetidas, atentando à influência dos procedimentos identificados com uma cultura carnavalesca.

Fonte e resenha: 7 Letras

Hipóteses: sempre temos uma em mente


Na vida nos deparamos com muitas hipóteses, tanto aquelas já formadas por outras pessoas, como aquelas que nós mesmos elaboramos, com a nossa experiência e vivência. 




Ao longo do tempo elas vão se confirmando ou sendo refutadas e, a partir desse ponto, novas hipóteses vão sendo construídas, é a evolução do conhecimento, é o amadurecimento, curso natural da capacidade do homem de pensar, refletir, discutir, experimentar, discordar, reconstruir, etc.

Mas, falando nessas hipóteses, podemos classificá-las como nula, alternativa unidirecional e alternativa bidirecional, são os tipos estudados nas ciências. De forma bem simplificada, temos:
  • Nula: expressa uma igualdade (=);
  • Alternativa, que pode ser unidirecional e bidirecional, ocorre em função de uma desigualdade (≠).
Pois bem, vamos exemplificá-las tomando uma mesma linha de raciocínio, que envolve o contexto atual do Carnaval:
  • Nula: O comportamento das pessoas é o mesmo independente de ser Carnaval ou não.
  • Alternativa unidirecional: No carnaval, o comportamento das pessoas é mais extrovertido do que em outra festa comemorativa.
  • Alternativa bidirecional: O comportamento das pessoas é mais ou menos extrovertido, conforme a festa comemorativa que participam.
Esse é um exercício muito eficaz para nos posicionarmos diante as situações do dia a dia, ou para quem vai construir uma hipótese e seguir em frente na pesquisa, seja qual for o contexto, social, político, econômico, etc

Praticando (fazendo a leitura), podemos encontrar o nosso posicionamento diante de uma inquietação: nulo, unidirecional ou bidirecional?

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Diferença? Questão de contexto!


Trago essas ilustrações para realçar a versatilidade do livro, a condição de se adaptar ao contexto de cada época e o poder de resistência ao longo da história da Humanidade.

Ao conceberam esse equipamento, não estariam eles (os antigos) a idealizarem uma espécie de e-book? É óbvio que respeitadas as devidas proporções.

A caixa livro do século 17 não seria um precursor audacioso do e-book?


Caixa livro do século 17, transportava miniaturas

E-book, possibilidade de transportar muitos livros reunidos em mídia eletrônica