Livros são conexões temporais e abrem janelas atemporais para o mundo. Foi essa a leitura que fiz como bibliotecária, quando assisti ao filme Interestelar, exatamente nas cenas que ocorrem no quarto da menina, quando a estante de livros é o objeto explorado.
Além da leitura científica inerente à visão geral do filme, outras leituras já foram feitas, conforme o contexto de cada um, filosófica, religiosa, psicológica, metafísica... Mas, eu prefiro ficar com a minha.
A princípio, o mistério!. Livros são derrubados, abrindo espaços nas prateleiras da estante. A menina conclui que alguém está tentando se comunicar com ela, por intermédio de código morse, talvez, um fantasma...
Depois, sinais são revelados em função da anomalia gravitacional existente na Terra. Desenhados no chão do quarto, por intermédio de grãos de areia.
Eles representam coordenadas em código binário, que conduzem ao centro de pesquisa espacial.
E, por fim, já no desfecho do filme, por trás da estante, abrem-se janelas entre os livros, de onde o agente do futuro (ou do passado) vivencia vários momentos do passado, do presente ou do futuro, fazendo conexões com as realidades, permitindo uma comunicação atemporal.
Fantasma? Não! Na verdade é o eu do futuro (ou do passado), interagindo com o presente que se passa na Terra, preso em uma dimensão espacial (
tesserato), composta pela redundância das prateleiras das estantes, do quarto da menina, numa realidade pentadimensional.
Em cada abertura já existente ou forçada pelo caimento dos livros, é possível perceber o tempo e brincar com o passado, presente e futuro, porque ele é mostrado como uma dimensão espacial.
É aqui que a analogia fica clara, o livro, as coleções, a estante, as prateleiras, são aberturas, são passagens, são possibilidades, são janelas que se abrem para o mundo. Uma simbologia ímpar, para representar esse contexto futurístico.
Afora esses trechos, há dois momentos paradoxais, em que constam livros em cena.
No primeiro, o livro que narra a história da saga espacial do passado, como objeto desacreditado, em função do novo contexto do planeta Terra.
No segundo, a sala do cientista repleta de livros que, provavelmente subsidiaram suas pesquisas.
Portanto, o livro como fonte de informação, como ponte, como conexão, como janela entre passado e futuro, influenciando o presente e interagindo com tudo, registrando e renovando o conhecimento da Humanidade.