sábado, 13 de fevereiro de 2010

No meu jardim



Hoje estava a contemplar o meu jardim deitada numa rede amarela e percebi a presença de certos companheiros indesejados, certos mosquitinhos, que voavam e perturbavam a minha face, tirando o meu sossego. Mas logo percebi que, enquanto eu detestava aquela inquietude, habitantes do meu jardim adoravam aquela situação, lançando-se em mergulhos no ar para bicá-los e assim apreciar um cardápio variado, propício de uma entardecer que prometia chuva. Deparei-me com bem-te-vis, rouxinóis, beija-flores, bicos-de lacre, andorinhas, sanhaçus, rolinhas caldo de feijão, sebites e lavandeiras, claro, além dos pardáis, frequentadores assíduos, inclusive com direito a moradia fixa. Apesar do tempo ter ficado úmido, do ensaio de chuva, ela não veio, mas foi o suficiente para tamanho espetáculo, ao ponto de descerem no gramado e passearem livremente, uns misturandos-se com os outros, sem qualquer discriminação. Alguns preferiram ficar ao alto nos arbustos ou mesmo na grade do muro e fios da rede pública próximos. Flagrei a delicadeza do rouxinol com seu andar saltitante e nativo dar de encontro com o passear calmo e doméstico das rolinhas, habitantes de ninhos por todos os lados. O beija-flor tesoura azul escuro apenas fez a sua rotina habitual, sugando o nectar das lágrimas de Cristo. Amei tudo isso e dei graças a Deus pelos mosquitinhos. Descrevi essa maravilha para ressaltar a questão do contexto, de onde consigo fazer três leituras: na primeira, a minha inquietação, na segunda, o deleite dos pássaros e, na terceira, que posso dizer ser um contexto recriado a partir dos dois primeiros, a minha contemplação, dando margem ao esquecimento do que me tirava o sossego.

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