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sábado, 7 de novembro de 2020

Livro infantil O Cachorrinho Peri

Peri, onde está você? Procurei pela internet e, quando te achei, você já não estava mais lá. Alguém com o mesmo interesse deve ter te levado. Que seja bem apreciado e curtido.

O Cachorrinho Peri foi mais um dos meus livrinhos de história da primeira infância, que li e reli várias vezes. A história, apesar de ser das primeiras décadas do século XX, traz mensagem positiva de diversidade, Peri era igual, mas era diferente, além do reforço dos conceitos de amor e amizade.


Estou de olho nos sebos da internet, caso apareça novamente, compro na hora. Gostaria muito de fazer uma nova leitura, no atual contexto.

A obra é uma tradução do original em inglês, de título Pretzel, da autora Margret Rey, publicado pela primeira vez em 1944, nos Estados Unidos.


Tanto me marcou esse livrinho, que até hoje tenho verdadeira paixão pelos cãezinhos da raça Dachshund. São sociais, amáveis, curiosos, alegres e muito inteligentes. Já tive o Bob e agora tenho o Major, essa fofurinha.



sábado, 10 de outubro de 2020

Um corredor de memórias...

Tarde de sábado e um acervo de brinquedos a ser classificado em: lembrança  da infância ou doação para crianças carentes. 

Um corredor de memórias! São muitos brinquedos que fizeram parte da infância dos meus filhos e que estão ainda bem conservados, mesmo depois de  passados mais de trinta anos.

Cai Não Cai, Imagem e Som, Casa da Barbie, Não Acorde o Dragão, Batalha Naval, Resta Um, Banco Imobiliário, Forte Apache, Monte Carlo, War, Ferrorama, estes são os mais conhecidos da época com títulos específicos, alguns ainda resistem aos dias de hoje no comércio, tais como os mais clássicos  Xadrez, Damas, Palavras Cruzadas e Luto.


Maleiros cheios, hora de esvaziá-los, Dia da Criança vem ai. 

domingo, 19 de abril de 2020

Tapeçaria, pontos de alegria

Fui aluna do Colégio Estadual Jenny Gomes, quando entrei em 1972 na sétima série, logo depois da reforma da educação, que juntou o curso primário ao ginasial, intitulando como  Ensino Fundamental. Cursei também a oitava série no ano seguinte. O Colégio era referência de ensino no Estado e nesse período foi credenciado pelo Conselho de Educação Estadual, pois antes disso, era uma instituição ligada diretamente aos militares da Base Aérea de Fortaleza, criada para atender exclusivamente aos filhos dessa categoria. Depois do credenciamento, a instituição militar continuou parceira em projetos de benfeitorias.

No currículo tínhamos uma aula semanal denominada GOT, não sabia o significado da sigla, mas, tinha noção, fazia a leitura que era algo ligado a trabalhos manuais, tanto para os meninos como para as meninas, claro que respeitadas todas as exigências de gênero da época. Naquele contexto havia tarefas específicas para meninos e, separadamente, outras específicas para meninas.  

Pesquisando na internet encontrei a denominação Ginásios Orientados para o Trabalho, creio que seja isso mesmo, pois o direcionamento da aula era com esse intuito. Nessas aulas, as meninas aprendiam diversas atividades, tais como costurar, pintar, modelar, tricotar, fazer croché, etc. Destaco a tapeçaria que aprendemos com direito a conhecer diversos pontos: ponto de cruz; ponto gobelim reto, inclinado e desencontrado; ponto kilim; ponto de arroz; ponto mosaicos, dentre outros, ao ponto de criarmos um álbum, que valia pontos para o bimestre.

Hoje, apresento aqui essa raridade, guardada por minha mãe durante todos esses anos, que já são quase 50, fruto do meu esforço e dedicação à atividade, em plena adolescência nos anos 70.




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Meu primeiro livrinho de história

"Bingo, o macaquinho" foi a minha primeira leitura na alfabetização, ganhei dos meus pais, em 1965. Feliz por tê-lo conseguido no Mercado Livre, pela Internet, pois o meu original não resistiu aos 55 anos que já se passaram.


Valeu muito a pena a aquisição, muitas recordações  voltaram à  mente e até tive a oportunidade de checar um trecho marcado na lembrança: 
_ "Um dia apareceu um caçador. Bingo não viu o caçador,  mas viu seu chapéu". Lembro-me, também, da viagem que fiz junto com Bingo pendurada aos balões coloridos, sobrevoando a cidade, sentindo o vento bater no rosto.

Além da lembrança da conquista da proficiência da leitura, o momento foi mágico, tanto pelo texto em si, como pelas imagens cheias de lembranças, que me fizeram transportar para a época, com direito a sensações sinestésicas de toda sorte.

Talvez hoje não fosse recomendado por não ser "politicamente correto", uma vez que Bingo sai do seu hábitat natural e vai parar em um jardim zoológico, apesar de na historinha ele ficar feliz da vida com a aventura da viagem.

Contextos a parte, o importante foi a leitura. O que um livro de história infantil proporciona a uma criança é por demais positivo e satisfatório ao seu desenvolvimento afetivo, social e cognitivo. Eu tive o privilégio de ter acesso aos livros muito cedo e com eles conquistei maravilhas.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Representação escolar da Infância

O ano era 1964, a classe era o Jardim II do Colégio Christus, a Professora era a D. Fransquinha, e o registro escolar era o caderno de atividades efetuadas ao longo do período. Recordo-me que ela dizia: "Guardem esse álbum para vocês mostrem aos seus filhos!"

E eu, na minha pequena compreensão, sem noção de tempo e de como seria o amanhã, achava o conteúdo daquela fala improvável de ser realizado.


Mas, os anos foram se passando, e o álbum resistindo ao tempo, às intempéries do próprio papel, às mudanças de lugar, tanto dentro da casa, como de uma casa para outra, e até às peraltices dos filhos, sim, porque teve quem recortasse os desenhos. 

Nesse contexto, entre mortos e feridos o fato é que o álbum existe até hoje, ratificando a fala da D. Fransquinha nos idos do ano 64, completando já 55 anos, em 2019.

E eu, que já mostrei aos meus filhos, cumpri a missão, quem sabe eles passam adiante e o álbum resiste à próxima geração. Neste caso, em se tratando de Arquivística, é uma peça documental do fundo arquivístico da família, de guarda permanente.


sábado, 16 de novembro de 2019

Registros à moda antiga

Apesar da tecnologia e dos recursos que imperam hoje na sociedade, com infinitas possibilidades de conexões, acessos e controles, uma caderneta de anotações à moda antiga ainda tem sua valia na atualidade. Dependendo do contexto, muitas vezes, ela ainda é o instrumento mais eficaz para registros. E esse, com essa ilustração cativante, veio ao meu alcance por intermédio de uma leitura mágica e nostálgica, de tempos atrás.


domingo, 7 de abril de 2013

Memorial Arquiteto José Armando Farias, referência a meu pai

Um historiador é alguém que busca resquícios, estejam onde estiverem, que junta fragmentos, mesmo que dispersos em vários lugares, que dentro da linearidade, desenha contornos, para fazer a leitura de tudo e tentar entender o contexto, contando a história, com o objetivo de preservar a memória e deixar um legado para a posteridade.

Esse alguém tem nome e está no seio da família, Historiador e Pós-graduado em História do Brasil e do Ceará, Armando Farias, meu irmão caçula. 

Além da busca do mobiliário, de objetos do convívio da casa dos familiares, de retratos e recortes, especialmente, fez o resgate dos trabalhos e objetos do nosso pai, Arquiteto José Armando Farias. Em momento oportuno, compôs todo o ambiente, criando o "Memorial Arquiteto José Armando Farias", na própria casa que ele projetou e construiu, na própria sala em que ele mesmo equipou, onde outrora ministrou curso para os professores do Colégio Christus, por ocasião da lei que instituiu o ensino profissionalizante para as escolas.

E eu fiz questão de posar e registrar tudo isso, primeiro com meu irmão Historiador, o idealizador do memorial, memorial carregado de contexto, em que a leitura é só alegria, orgulho e muita saudade... Depois, em cada cantinho desse ambiente, curtindo cada detalhe da vida profissional e pessoal do meu pai, com minha mãe, mulher inspiradora e apoiadora de muitos projetos dele e, por fim, com todos os meus irmãos, marcando a descendência do casal para a posteridade.

Tenho a certeza de que o "garimpar" continua e outras peças ainda serão acrescidas à coleção.









   






sábado, 8 de dezembro de 2012

Túnel do tempo: a Biblioteca do Banco do Estado do Ceará


Cenário: Biblioteca Geral do Banco do Estado do Ceará - BEC.
Período: 1986 a 1994

Antes de assumir a Chefia da Biblioteca Geral do Banco do Estado do Ceará - BEC, já se tentava algo mais consistente, mais dinâmico, afora o trivial que vinha sendo feito. Foi quando se idealizou a utilização do malote do Banco para levar os empréstimos de livros aos funcionários de todas as agências. A nova atividade teve ótima aceitação, e o Jornal BEC Informa noticiou em 07/11/1986.









"A pessoa certa no lugar certo", foram estas as palavras proferidas pelo novo Chefe que acabara de assumir o Departamento de Planejamento e Organização - DEPLO, depois do ritual de apresentação de cada funcionário.

Admirado pela situação de encontrar uma bibliotecária formada, que não estava à frente da Biblioteca, tratou de reparar a situação.

Logo depois chegou o ato administrativo, assinado pelo Presidente, nomeando a Bibliotecária como Chefe da Biblioteca.




Daí em diante foi idealizada uma série de ações para dinamizar a Biblioteca Geral do Banco (BIBEC), que, até então, era uma unidade de estudo quase que exclusiva daquele Departamento.

A primeira delas foi atualizar suas instruções de serviços (IS-22) e tratar de incluir um item que garantisse a atualização do acervo, sendo definido o valor correspondente a um salário mínimo, para compra mensal de livros. Direito igual foi dado à Biblioteca Jurídica (BIBLI).

Em seguida o empréstimo de livros foi estendido a todos os funcionários, não só aos da Direção Geral (como antes), mas, de toda a rede de agências, que, na época, contava com mais de 70 unidades, espalhadas pelo Interior do Estado e nas Cidades de Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Um formulário de solicitação foi criado (código 22.91.0010-6) e logo foi impresso em bloco, fazendo parte do estoque de material, para ser solicitado pelas unidades. Mas como garantir a reposição do acervo em caso de perdas e extravios? Na referida solicitação continha abaixo uma autorização de débito em conta, que o funcionário previamente assinava, essa foi a forma de assegurar o acervo da Biblioteca. Os empréstimos eram atendidos colocando os livros em envelopes, utilizando o malote do Banco .

No entanto, era necessário dar personalidade ao sistema de empréstimo via malote, que a cada dia ganhava mais usuários. Fazendo parte desse novo contexto, foi idealizado um pequeno malote, a exemplo dos utilizados pelos Correios, para que os livros fossem enviados com segurança (com lacre) diretamente aos funcionários interessados, mediante à solicitação prévia, utilizando o sistema de malote do Banco.


Figura adaptada 

Daí por diante, a nova rotina da Biblioteca era atender às solicitações e receber as devoluções, o que acontecia diariamente nos horários rigorosos do malote do Banco (2 vezes por dia), era o malote da Biblioteca dentro do malote do Banco. E o balcão da Biblioteca, constantemente, ficava lotado de publicações, que atendiam a esse fluxo...

Mas, nem só de livros de treinamento, técnicos e científicos era composto o acervo da Biblioteca. Em  1987, visando atender a uma demanda reprimida e, ao mesmo tempo, acolher um acervo sem possibilidade de utilização e cuidados, foi firmado convênio entre o Banco do Estado do Ceará e  a Associação Atlética Banco do Estado do Ceará (AABEC), tendo como objeto a transferência do acervo da Biblioteca daquela Associação, Raul Leite, para a Biblioteca do BEC, visando a sua administração, uso e controle. Os livros foram incorporados ao acervo com o indicativo da letra "A", que antecedia ao número de tombo, para diferenciá-los do acervo já existente. O convênio foi amplamente divulgado, inclusive na Revista da AABEC.





A comunidade Becista passou então a conhecer a importância de uma biblioteca e a usufruir dos seus serviços, que, inclusive, eram extensivos aos seus dependentes. Pesquisas escolares eram atendidas mediante a solicitação por telefone, utilizando-se as enciclopédias Barsa, Mirador, Conhecer e tantas outras existentes no acervo da época. Os verbetes eram fotocopiados e enviados também pelo malote para o funcionário solicitante. Também era rotina receber essa clientela nas dependências da Biblioteca, acompanhada de orientação, para que ela mesma fizesse as consultas de seu interesse.



Abusando das facilidades do malote do Banco, foi criado o "Sistema de Informação Corrente-SIC", em que, previamente, era enviada uma correspondência aos funcionários com as opções de assuntos a serem escolhidos, o que correspondia ao recebimento, via mala direta, de cópias de artigos veiculados nas revistas assinadas pela Biblioteca do Banco, fazendo com que a informação fosse compartilhada com todos. Uma espécie de disseminação seletiva da informação.





Mais adiante, chegou a tecnologia de vídeos em VHS e a Biblioteca investiu em muitos filmes de treinamento, a fim de diversificar o acervo e viabilizar o autodesenvolvimento de todos a qualquer tempo, conforme a comodidade de cada um. Mas, não ficou por aí, sessões de vídeos eram programadas no horário de almoço e a sala interna da Biblioteca estava sempre lotada, funcionários e gestores trocavam ideias e experiências em harmonia. O vídeo mais requisitado era Motivando para Vencer I, que já foi motivo de outra postagem.





Marco interessante foi a aquisição do livro "Ascensão e queda das grandes potências", de Paul Kennedy, que mexeu com a Diretoria, depois da divulgação no BEC Informa. Afinal a compra fora totalmente revolucionária, saindo do contexto de até então, quando eram adquiridos livros visando sempre aplicá-los imediatamente em situações pontuais do Banco.



Logo depois, com a chegada dos PC's em cada Departamento/setor, foi possível cadastrar todo o acervo , utilizando o banco de dados dBase e distribuir listas de autor, título e assunto via malote, para que os funcionários fizessem suas escolhas.  É claro que essa tarefa não foi assim tão fácil, primeiro foi preciso alguém para desenvolver a estrutura da base de dados e depois conseguir hora livre nos PC's do Departamento, para digitar as fichas catalográficas uma a uma. Depois de concluído esse processo, com a divulgação informatizada, mais e mais pedidos foram sendo recebidos, ao ponto de ocasionarem reservas de muitos títulos.

Sob o título "Biblioteca ganhou sua importância e parte para sua essencialidade", a matéria veiculada no BEC Informa nº 494, de 29.10.91, registrou o posicionamento do Chefe de Departamento de Organização (DEORG), antigo DEPLO, e as realizações da Biblioteca. A Biblioteca cresceu e foi parar no Departamento de Recursos Humanos (DERUM), no Centro Administrativo do Banco, bem juntinho do treinamento. Nesse contexto, subsidiava os livros para os alunos nos programas específicos de treinamento e desenvolvimento e até de pós-graduação, passando também a orientar a normalização dos trabalhos desses cursos.








Com a transferência para o Centro Administrativo, uma nova leitura, a Biblioteca, realmente passou a ser essencial e, frenquentemente, era notícia no Jornal BEC Informa...




Em novo espaço, a BIBEC mantinha internamente, além do ambiente de leitura, uma sala para sessões de vídeos e outra para reuniões.




Na edição especial de julho/1994, a BIBEC também foi notícia.





Durante o ano de 95 a Biblioteca ainda se desenvolveu, enfrentando no final de 1996 os primeiros indícios da privatização do Banco. Não querendo ver tudo que foi construído ser deixado para um plano inferior, em 1997, optou-se pelo desligamento profissional do Banco, vindo com ele, a prevista desconstrução da BIBEC.

Foram dez anos de dedicação e crescimento profissional, de leitura e contexto. Saudades daquela rotina, saudades da Biblioteca, saudades dos colegas e usuários, saudades do Banco...


domingo, 4 de março de 2012

Raízes


Resgatar as raízes da família para contar a história e assim preservar a memória, é simplesmente maravilhoso!

Encravada em terreno de quase 5.000 m2, localizada na Av. João Pessoa 4149, a casa foi palco do nascimento e desenvolvimento da família Chaves. Lá foram fincados e registrados os momentos de convivência, de educação e de toda a existência dessa família, de quem herdei o sobrenome, pelo enlace com o herdeiro mais novo.

A casa já não mais existe, mas, voltando à questão da preservação, foi oportuno o resgate de dois elementos característicos, duas placas metálicas que identificavam a residência dos Chaves, uma se referindo ao próprio patriarca, meu sogro que não conheci pessoalmente, Sr. Mario Chaves,  e a outra alusiva à condição de fé e de serviência ao próximo, praticada pelos progenitores, aqueles que deram origem à família, ressaltando-se a esposa daquele, minha sogra, a Sra. Lindalva Chaves.




Ambas foram representantes de momento singular na infância desse filho, também de nome Mario, que outrora participou da fixação dessas placas na parede frontal da casa, e, mais recentemente, pelo neto, Mário Victor, que acompanhado daquele, fez a retirada, com vistas à preservação.


Mariana, Mário César, Ana Luiza, Mário Victor e Mario Chaves, acompanhados dos queridos anfitriões, Daniel e Madrinha, em janeiro/1997.



Passados mais de sete anos da venda e da demolição da casa, tive a iniciativa de providenciar a restauração das referidas placas, para fixação na nossa residência, como respeito às raízes dessa família, da qual passei a fazer parte e que ajudei a perpetuá-la por intermédio dos meus três filhos, que levam no pré-nome, a marca da "dinastia".





Importante ressaltar, além da ideia da composição final, repassada para o Ateliê Coisas & Mosaicos, o trabalho primoroso e perfeito de restauração das placas, feito pelo historiador, especialista em história do Brasil/Ceará e restaurador, Armando Farias, meu irmão caçula, que herdou do nosso pai os dotes artísticos e a estes acrescentou tantos outros afins.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma escola à frente dos tempos


Ficha técnica

Nome: Escolinha O Cogumelo
Ano de criação: 1971
Diretora: Pedagoga Maria da Conceição Farias
Linha educacional: Arte-educação, Educação criadora
Ano de encerramento das atividades: 1994




Em 1971, nasce em Fortaleza, precisamente no Bairro de Fátima, a Escolinha O Cogumelo. Uma escola prá lá de diferente, uma escola à frente dos tempos. Atuava com as classes de Maternalzinho, Maternal I, Maternal II, Jardim I e Jardim II, formando crianças para ingressarem na alfabetização. Nessa época,  o Maternal era objeto apenas das escolinhas menores, os colégios maiores não ofertavam vaga nesse sentido, somente depois, já nos fins dos anos 80, descobririam esse nicho de mercado, contribuindo para recheá-lo, as creches, que recebiam crianças de idade menor ainda.

Mas, voltando para O Cogumelo, uma das escolinhas de Fortaleza pioneiras nesse ramo, destacava-se pela forma diferente de tratar e ensinar as crianças, sempre utilizando a arte como recurso lúdico, para atingir o fim didático e pedagógico. Poesia, música, parlendas, desenhos, dança, expressão corporal, dramatização, recreação, teatro de fantoches, recorte e colagem,  contação de história, tudo era instrumento de aprendizado para a vida e também para se chegar ao conhecimento formal, aquele que era exigido para a classe posterior, a Alfabetização.

Os brinquedos utilizados eram todos diferentes, nada de coisa pronta, fechada, tudo tinha que ter a participação e a criatividade da criança. Parquinho? Tinha sim, mas, todo projetado artesanalmente e artisticamente (a arquitetura e a pedagogia se uniam em corpo e alma), visando explorar a coordenação viso-motora -- ladeiras e degraus, para subir e descer; pontes, para passar e se equilibrar; pneus coloridos (aqui cabe ressaltar o pioneirismo absoluto), para fazer caminho de obstáculos; anéis de cacimba, para servir de casinha e abrigo; areia, muita areia de praia, para brincar e se sujar. Tampinhas, frascos vazios, pazinhas, baldes, muitos utensílios para brincar na areia. E as mães perguntavam: Tem parquinho? E eram mostrados esses brinquedos e elas se admiravam pela excentricidade. Algumas não entendiam e pelo menos um brinquedo tradicional deveria existir para "iludir" e não sair do esquema.

Os alunos, tão pequeninos! Alguns com questões para serem tratadas, que logo eram identificadas pela proximidade e atendimento individualizado dispensado a cada um. Nenhum era evidenciado ao ponto de colocar a criança na berlinda, em situação constrangedora, e sim compartilhado de forma anônima, como lições para a vida. Uma criança não sabia se defender, outra não conseguia se alimentar sozinha, uma se apavorava ao sujar a roupa ou as mãos, tinha uma com medo de ir ao banheiro, outra ainda que não sabia conviver em grupo... e tantas outras situações, que eram contornadas, corrigidas e superadas em sua totalidade, sempre em grupo, com a simples contação de uma história, com a elaboração de uma poesia específica ou por intermédio da expressividade em desenhos.

Desenhos livres que utilizavam vários tipos de lápis, tintas, papéis e suportes, que depois de prontos, eram narrados pelos alunos, uma forma de exercitar a leitura, a escrita, a expressividade e a comunicação oral . Para reuni-los, colecioná-los, nada de capa de trabalho pronta, pré-desenhada, só para colorir, as capas eram por demais trabalhadas, cada criança fazia a sua composição, conforme o motivo do contexto.

E falando em leitura, também existia uma biblioteca, dotada de livros apropriados para cada classe, Maternalzinho, Maternal I, Maternal II, Jardim I e Jardim II, todos os alunos já eram incentivados nessa atividade, inclusive em relação à concentração, ao comportamento, ao respeito aos livros e ao ambiente. É claro, que todos eles ainda não sabiam ler por palavras, entendendo e acessando os  códigos silábicos e alfabéticos, o nosso léxico, mas, já liam as gravuras, entendiam a sequência da história e criavam também suas próprias histórias, a partir da interpretação particular que faziam, da leitura pelo olhar de cada um. E tudo isso gerava uma discussão sadia, em que uns falavam com os outros trocando ideias e pontos de vista, pois cada um criava o seu contexto.


O negrinho do pastoreio querendo pegar uma fruta.
Mário Victor - 5 anos (20/08/1987)


O circo e o palhaço. O elefante fugiu e o palhaço trouxe de volta
Mário Victor - 6 anos (24/05/1988)


O índio
Mariana - 3 anos (17/05/1989)


A menina saiu da casa e deixou a porta aberta, ai o cachorro entrou para comer o bolo e o biscoito da menina.
Mariana - 4 anos (06/11/1990)


Ecologia, amor e cuidado com a natureza, temas que só viriam a ser falados pelas autoridades governamentais já nos fins dos anos 80 e no colóquio diário da sociedade, somente no decorrer dos anos 90, eram praticados com naturalidade na Escolinha O Cogumelo. Ficar em silêncio e ouvir o barulho dos pássaros, abraçar uma árvore e sentir a sua fortaleza, usufruir de sua sombra e de seus frutos, colhidos na mão e depois saboreados, sentir o cheiro das folhas, flores e frutos. Plantar e regar um projeto de árvore, sim, era dessa forma que se passavam os ensinamentos, pois ela só se tornaria adulta ao ponto de oferecer tudo aquilo se fosse regada e cuidada.

Civismo e amor à pátria, com o respeito incondicional à bandeira do Brasil, ao Hino Nacional, às raízes brasileiras, era matéria diária no contexto das manhãs. O 7 de Setembro era comemorado com o desfile interno, todos com a farda impecável, com algum distintivo alusivo à pátria e conduzindo a bandeirinha do Brasil.


7 de Setembro 1988


As  atividades diárias ressaltavam o folclore, as lendas, os costumes, as brincadeiras de outrora, do tipo: passa o anel, três, três passarás, chicote queimado, tá pronto seu lobo? Muita recreação, muita liberdade e toda hora era hora de ensinar, brincando e aprendendo -- azul, amarelo, vermelho, verde; a, e, i, o, u; pequeno, grande; maior e menor; alto e baixo, 1, 2 e 3..., cada criança, no seu ritmo, assimilando o que podia.

As datas marcadas pelo calendário eram todas muito bem comemoradas na Escola, a começar pelo carnaval e a páscoa seguidas pelas demais ao longo do ano, com ênfase para as duas festas semestrais, o São João,  que fechava o quarteirão da Rua Manoel Padilha, a cada ano mais famoso, e a festa de confraternização de final de ano, com a formatura dos doutores do A - E - I - O - U. Também se faziam passeios, uma espécie de lazer orientado, sempre em alusão a algum ensinamento ou comemoração.


Interior do ônibus de passeio
outubro/1988


Brincar de gente grande era um momento especial, cada um representava alguém.
- Eu sou o pai!
O outro gritava:
- Hoje eu sou o filho!
Precisavam de carteiras, gravatas, cintos, relógios para assumirem tal papel.
E as meninas queriam ser a mãe, a professora, a filha e trajavam-se e adornavam-se  usando bolsas, pulseiras, brincos e tudo isso era solicitado na tal lista especial de material, que às vezes não era entendida pelas mães, pois os outros colégios competiam entre si com o tamanho e diversidade da lista.

Questões de gênero eram representadas sem que isso fosse fortemente evidenciado, era apenas contextualizado e assim as crianças entendiam seus diferentes papéis sociais e os comportamentos relacionados aos homens e mulheres. A própria farda, idealizada para proteger o corpinho das crianças, já trazia essa ideia, quando se diferenciava na cor azul para os meninos e na vermelha para as meninas, sem que houvesse o tal machismo, pois as meninas tudo podiam em relação aos meninos e estes respeitavam a ideia depois de recebidas as orientações.
- Tia, mulher pode dirigir caminhão?
- Pode sim, ela tem mão, tem pé e tem cabeça para pensar.
- E jogar futebol?
- Também pode, ela sabe correr e chutar. 





Na sexta-feira, a farda era diferente, era dia de educação física e, apesar de uniforme, havia aquele detalhe diferente que individualizava cada um, o cogumelo estampado na camiseta, este podia ser à vontade, ao gosto do aluno. A brincadeira para aquecer o corpo era cantada ao som de "cabeça, ombro, joelho e pé".

Igualdade social e de raça, as lições eram passadas sutilmente, de forma bem leve, por intermédio de poesia, de música.

"Eu vi um pássaro preto, que voava assim, assim...
Eu vi um pássaro branco, que voava assim, assim..."
Parte integrante da poesia da Maria da Conceição Farias



Inclusão social, naqueles anos, não era assim chamada, até porque não se evidenciava como nos dias atuais, mas na Escolinha O Cogumelo sim, pois recebia naturalmente, sem que isso fosse exigido por lei, pela sociedade. Os alunos especiais em todos os sentidos eram todos integrados ao grupo, que sabia respeitá-los e os via como seres humanos iguais, com necessidades iguais, de brincar, de aprender, de correr, de comer...

Falando em comer, a hora da merenda era uma festa. Cada um saboreava o que sua mãe havia incluído na merendeira e se alguém não gostasse, era dado um incentivo, todos se envolviam naturalmente com aquele problema, que daqui a pouco já virava solução. Também havia os biscoitos mágicos da Escola (biscoitos comuns), que eram oferecidos em momentos especiais e todos adoravam incondicionalmente, e as mães queriam saber onde comprar tais biscoitos maravilhosos de tão comentados em casa pelas crianças.

Via-se o crescimento de todos eles em todos os sentidos, amadureciam, superavam limitações, aprendiam os conhecimentos repassados, tiravam suas conclusões e davam conta das lições necessárias para cumprir o currículo.  Quanta alegria, quando chegava o dia da festa do a - e - i - o -  u! Era a formatura da Escola, os alunos tinham que seguir o rumo da vida, a Escolinha O Cogumelo já dera sua contribuição.

Diploma do A-E-I-O-U
dezembro/1988


 


Contribuição também religiosa, mas, de forma ecumênica, como veio depois determinar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, mais uma questão à frente dos tempos.
  

Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)

Todos os que se formavam e deixavam a Escola eram submetidos aos testes seletivos dos outros colégios e sempre obtinham êxito e até a admiração, pois sempre era perguntado: Qual era a escola que ele(a) estudou?

E hoje,  mais alegria ao ver um ex-aluno bater à porta da casa que abrigou por mais de 20 anos a Escolinha O Cogumelo! Ou, que satisfação ao encontrar no shopping aquela criança já crescida, um jovem bem formado, e ouvir gritar o nome da tia tão querida:
- Tia Concita!
Que nos últimos anos já era chamada de Vó Concita, minha querida e admirada mãe, exemplo ímpar de educadora.

Pois é... eu que acompanhei e participei de tudo isso, que vi os frutos, que vi o resultado, me orgulho dessa obra, principalmente porque vejo tanta coisa acontecendo, sendo praticada somente de uns tempos para cá e eu fico a pensar... minha mãe já fazia tudo isso muito antes e com muita propriedade. Daí também me emociono ao ver um deles chamando e perguntando:
- Tia Ana! Lembra de mim?
Naquele contexto, eu nos meus 13 a 18 anos, se fizermos nova leitura, estava mais para colegas deles do que para tia, acho que também por isso a receita deu certo.

Bons tempos aqueles...