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terça-feira, 9 de junho de 2015

"O Futuro tem um coração antigo": Dia Internacional dos Arquivos

Neste Dia Internacional dos Arquivos tomo a frase de Carlo Levi para ressaltar a importância dos arquivos, por fazerem parte de nossas vidas.

Em passagem à Oficina Brennand, deparei-me com ela em grande estilo, cravada na arte da cerâmica,  não hesitei em registrar o momento.


Painel cerâmico da Oficina Brennand


O que seria do futuro sem os registros do passado? Nesse ponto os arquivos estão presentes e são incisivos. 

Os registros do passado e do presente influenciam aqueles que ainda virão, tanto na vida em geral, como no contexto da Arquivística. Um lugar, uma cidade, uma pessoa, uma empresa são entidades produtoras de documentos durante o desenvolvimento de suas ações. São passagens de uma vida que vão se agregando de forma cumulativa, sem pretensão, é a natureza dos registros arquivísticos, que, se preservados, podem ser resgatados para contar a história.

Passado presente no futuro, futuro cheio de presente que já virou passado. Futuro que não se constitui do nada, herda passos do passado, se transforma, passa a ser o que vai ser e logo já vira passado. 

Sem os arquivos, tudo se perde, nada se conhece.

Para conhecer mais sobre a obra de Carlo Levi
Para conhecer mais sobre a obra de Francisco Brennand

sábado, 13 de dezembro de 2014

Empty Socks


Em época de Natal, nada melhor do que receber um documento raro, uma relíquia!

A notícia do achado da primeira animação de Natal da Disney, 'Empty Socks', divulgada pela Biblioteca Nacional da Noruega, é um presente para os estúdios Disney e para todos os apreciadores do cinema de animação.

Enquanto misturado a outros filmes e documentos do acervo daquela Biblioteca era apenas mais um volume que se encontrava em processo de digitalização, mas, isolado e autenticado por autoridade competente, passa a ser uma peça arquivística rara, que deve se juntar ao seu contexto de produção.

Abaixo, a matéria veiculada no portal Veja

Biblioteca da Noruega encontra 1ª animação de Natal da Disney

Oswald, o coelho sortudo, estrela ‘Empty Socks’, desenho animado de 1927, que será exibido no dia 17 de dezembro no país.

Foto divulgada pela Biblioteca Nacional da Noruega mostra uma cópia restaurada do curta de animação "Empty Socks", de 1927, 
parte da série de Oswald, o coelho sortudo, da Disney (Martin Weiss/Nasjonalbiblioteket/AFP)

A Biblioteca Nacional da Noruega anunciou nesta quinta-feira a descoberta de Empty Socks (Meias Vazias, em tradução livre), de 1927, animação da Disney até então considerada desaparecida. O curta-metragem é o primeiro desenho animado do estúdio com a temática de Natal. "A princípio, não sabíamos que se tratava de um tesouro cinematográfico", disse à agência France Presse o arquivista da instituição, Kjetil Kvale Soerenssen.

O curta, que é protagonizado pelo personagem Oswald, o coelho sortudo, antecessor de Mickey Mouse, foi encontrado durante uma revisão do sistema da biblioteca da cidade norueguesa de Mo i Rana, em 2008. Ao longo dos últimos anos, passou por uma restauração e digitalização e agora será exibido na Biblioteca Nacional da Noruega em 17 de dezembro.

David Gerstein, desenhista da Disney e especialista na história dos desenhos animados, foi o responsável por autenticar Empty Socks, que tem 5 minutos de duração. Até então, existia apenas uma sequência de 25 segundos do curta no Museu de Arte Moderna de Nova York.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Arquivo pessoal: revelações de toda sorte


Os arquivos pessoais pressupõem os registros, os testemunhos e as lembranças da vida íntima, familiar, profissional e em sociedade, tendo como centro a pessoa produtora do arquivo e como limites a atitude de quem os selecionou. Portanto, não é tudo que se viveu, mas, o que foi selecionado para a memória dentro de um critério contextual ou ainda o que resistiu ao tempo, mesmo sem a intenção de acumulação.

Afora os documentos comuns, eu diria, os que se referem às atividades meio, ou seja, aqueles que todos nós acumulamos e/ou temos que preservá-los enquanto cidadãos e pessoas físicas, tais como obrigações legais, financeiras, profissionais, fiscais e sociais, há aqueles que identificam e caracterizam a pessoa que os acumulou. São documentos que expressam a subjetividade da pessoa, que, embora enquanto viva, só interessem a ela mesma, podem, no futuro, vir a ser fonte de recordação para a família ou úteis para a sociedade como valiosa fonte de pesquisa, pois revelam hábitos, costumes, momentos e cenários, que se revestem de memória e história.

Sendo assim, eles podem ser classificados por intermédio de dispositivo legal como sendo de interesse público e social, ainda mais quando se trata de figura de repercussão nacional e mundial.


Na matéria "Tudo o que sempre quisemos saber sobre Hemingway e nunca tivemos coragem de perguntar", de Inês Nadais, publicada em 16/02/2014, verifica-se a riqueza de detalhes, de particularidades que um arquivo pessoal pode conter, são revelações de toda sorte sobre o escritor.

A autora da matéria usa a expressão certeira "espreitar pelo buraco da fechadura", referindo-se às informações e revelações contidas nos 2.500 documentos que estavam armazenados durante décadas na casa onde Hemingway viveu de 1939 a 1960, na Finca Vigía, nos arredores de Havana, hoje Museu Ernest Hemingway.

Conhecer o seu arquivo pessoal é conhecer mais sobre Hemingway, é fazer a leitura do que há de comum ou de diferente na pessoa do escritor, é entender o contexto que o autor, sem intenção, explica para o mundo, depois de sua partida.




A receita do seu hambúrguer, a fatura da compra de um Buick Super Station Wagon, a licença de porte de arma emitida pelo Governo cubano, bilhetes de touradas a que assistiu na Espanha, telegramas importantes, correspondência pessoal, diários, manuscritos originais, postais de Natal, passaportes, contas da mercearia, da oficina, da livraria e do bar, notas de encomenda, extratos bancários e mais de nove mil livros anotados à mão, tudo agora faz parte do acervo da Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy e está digitalizado e acessível para pesquisa.



"Factura do Buick que o escritor comprou em Key West, na Florida, em 1959 
ERNEST HEMINGWAY PAPERS COLLECTION/MUSEUM ERNEST HEMINGWAY FINCA VIGÍA" 

Em comunicado à imprensa, o diretor da biblioteca, Tom Putman, registrou:


'Congratulamo-nos por disponibilizar aos investigadores cópias destes materiais que permitem um vislumbre único do quotidiano de Hemingway. Tratando-se, como se trata, de uma figura literária frequentemente retratada como maior do que a vida, este acervo serve para humanizar o homem e para compreender o escritor'.

Obras de Ernest Hemingway
Leia a matéria completa
Veja outra matéria a respeito


sábado, 12 de janeiro de 2013

A Alma do arquivo: quebrando paradigmas


Já parou para pensar como é a alma do arquivo?

A primeira impressão é a que fica, mas, agora pode ser a hora de rever conceitos e quebrar paradigmas. 





Definida?
Socialmente sim, mas assume outros valores, administrativo, fiscal, legal e histórico, conforme a leitura e o contexto.

Empoeirada?
Nem tanto, apenas superficialmente, pois, na sua essência há limpeza a cada leitura.

Adormecida?
Eu diria, em espreita, em stand by, pronta para acordar com o mínimo de quebra de silêncio.

Cinzenta?
Melhor seria preta e branca, elucidando mistérios e segredos, o que é e o que não é.

Desumana?
De forma alguma, haja humanidade nela! É um baú de pessoas e de ações por elas vivenciadas e que estão sempre disponíveis.

Inflexível?
Põe flexibilidade nisso! Tem muito bom senso e vive o contexto.

Esquecida?
Jamais, é um poço de memórias e ajuda a lembrar o que está esquecido.

Envelhecida?
Melhor qualificá-la como madura, experiente.

Desorientada?
Apenas para os leigos, para quem conhece o mister da questão, a alma do arquivo jamais levará esse predicativo, existe orientação para tudo.

Independente?
Não tem como sê-la, há cumplicidade em tudo, inter-relacionamento e interdependência. Sempre estará vinculada a alguma coisa, questões de princípios.

Perdida?
Não é bem assim, dá alguns passeios, mas, volta às origens sempre.

Exigente?
Um pouco, gosta de manter a ordem original e não insiste em dividir o indivisível, também por questões de princípios.

Morta?
Ao contrário, sempre viva, paradoxal? Não, fenomenal!

Indecifrável?
Não, é só fazer a leitura, conforme o contexto.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Saboreando "O Sabor do arquivo"


Estou agora a saborear "O Sabor do arquivo", autoria de Arlette Farge, editado pela Edusp. E que sabor! Um primor de obra, que usa sem querer, facetas da Arquivística, para fazer ponte entre o Direito e a História, já comentada aqui neste espaço de leitura e contexto e agora, também, junto à Sociologia. 

A autora utiliza os registros dos arquivos policiais da França no século XVIII, para revelar situações do contexto desse cotidiano social e, por intermédio deles, levar o leitor a perceber que não se tratam de simples páginas escritas e adormecidas, mas, um complexo de informações, que, a qualquer tempo, no dedilhar e olhar do pesquisador ou curioso, chegam à tona, desvendando mistérios, contando histórias e elucidando fatos, denunciando os  crimes, os costumes, os segredos da sociedade da época, em um verdadeiro "debate social". 

Pelos depoimentos policiais é possível conhecer o comportamento da mulher daquele século, o quão era atuante, mesmo na sua condição de subjugo, também os pequemos delitos de delinquentes, a perseguição ao chambrelan, os acontecimentos de Paris...

A autora faz a leitura do aquivo utilizando-se de um jogo de paradoxos, ao tempo em que fala da monotonia, ressalta a sua dinâmica, do silêncio que impera, enfatiza o soar das palavras dos manuscritos, quando consultados e lidos seus registros.

Fala da fragmentação dos acontecimentos, da desordem, do tamanho do arquivo, da impossibilidade de consumi-lo em leitura durante toda uma vida. 

Premia o leitor, principalmente aquele da área, com a sequência de uma pesquisa e com citações de Foucault. Premia também esse espaço de leitura e contexto, quando dá ênfase à subjetividade.

Eu que venho há mais de 15 anos "saboreando arquivos", me deparo agora com este sabor à parte.

Recomendo a leitura.

sábado, 20 de outubro de 2012

Dia do Arquivista II















Arquivista!

Organicidade e proveniência,
Não perca de vista!

Faça a leitura, busque o contexto,
Seja relativista!

Conhecer o arquivo?
Faça entrevista!

Visão subjetivista,
Atitude objetivista!

Atender à pesquisa?
Atitude cooperativista!

Preservação, conservação,
Seja ativista!

Crescimento profissional?
Invista! 

Profissional da informação,
Não desista!  

Dia 20 de outubro - Dia do Arquivista 
 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pilares do arquivo


Seu arquivo funciona?

Em qualquer contexto faz-se necessário manter os quatro pilares do arquivo:
  • Acessibilidade = ter acesso fácil e sistematizado à informação.
  • Agilidade = conseguir de forma ágil a informação solicitada.
  • Confiabilidade = oferecer resultados de informação confiáveis.
  • Flexibilidade = estar propenso às mudanças necessárias, sejam elas em quaisquer esferas (tecnológicas, estruturais, organizacionais, etc.), trabalhando o passado, presente e futuro.



A figura é construção da autora deste Blog.


O desafio no cenário da gestão arquivística é ter o domínio e o acompanhamento da evolução das tecnologias da informação e comunicação, com vistas à implementação de sistemas e serviço de informação capazes de fomentar as atividades das empresas (planejamento, direção, organização e controle), quando se trata de informação de valor primário e, as demandas da sociedade, quando se refere aos arquivos históricos e permanentes, num diálogo constante entre arquivistas e usuários, sem perder de vista o aspecto humanístico e ético.

Fazer a leitura constante do arquivo e verificar se esses pilares estão sustentando o seu arquivo é fundamental para manter o sistema funcionando com eficácia.


sábado, 14 de julho de 2012

Evolução dos arquivos: questão de contexto




Segundo Bautier, citado por Cruz Mundet (1994), a história da evolução dos arquivos é dividida em quatro períodos: a época dos arquivos de palácio, que corresponde em termos gerais à Antigüidade; a época dos cartórios, abarcando os séculos XII a XVI; a época dos arquivos como arsenal de autoridade, que se estende por todo o Antigo Regime, desde o século XVI ao século XIX; e a época dos arquivos como laboratório da história, desde o início do século XIX até meados do século XX. 

Fazendo diversas leituras e desenvolvendo cada período, conforme o contexto,  têm-se os trechos abaixo.
Na Antiguidade (Suméria, Grécia e Roma), os arquivos tinham a função de representar a gestão do poder e eram tidos como lugar de conservação de documentos autênticos. A necessidade de guardar os registros referentes a cobrança de impostos, empréstimos e inventários, ordens administrativas, tratados comerciais e políticos, decretos, plebiscitos, atas, contas públicas, leis, documentos judiciais e testamentos, era puramente prática e administrativa, fazendo com que existissem grandes depósitos, ora os próprios templos, ora construções denominadas especificamente como archeion, na Grécia e Tabularium, em Roma.



Tabularium de Roma


A razão da grande dimensão dessas construções, além do próprio caráter imponente e monumental que se revestia a arquitetura da época, dava-se pelo suporte do documento, tabuletas de argila ou papiro embutido em grandes frascos cerâmicos e cestos, para conservação do documento. Essas construções garantiam a segurança do documento ali depositado, para servir de testemunho, outra função dos arquivos da época, caracterizados como públicos: do governo e para o governo.

Há uma mudança na conotação dos arquivos públicos, após o período clássico, quando passam a servir para responder aos direitos e obrigações dos cidadãos comuns, garantindo os direitos patrimoniais privados, por intermédio do Direito Romano, que institui o documento de arquivo com o valor de fé pública, assegurando-lhe a autenticidade por meio de empregados especiais.

A queda do Império Romano provoca a decadência da cultura e, conseqüentemente, do documento escrito e os arquivos públicos deixam de existir, passando o controle da documentação para a monarquia, nobreza e Igreja, são os arquivos monásticos, senhoriais e eclesiásticos, que fixam a sede dos governos. Os documentos, tratados isoladamente, são verdadeiros tesouros, que garantem o titulo de propriedades durante a Idade Média.

Somente após a retomada do Direito Romano, o documento volta a ter o valor jurídico e o sentido de conjunto (orgânico e indivisível) e junto aos documentos públicos se constituem os documentos privados, que adquirem valor legal, quando validados por um tabelião.

Do século XVI ao século XIX, na Europa, os arquivos eram considerados um conjunto de armas políticas e jurídicas, um arsenal de autoridade, a serviço dos monarcas. Foi a época da constituição dos arquivos centrais de estado, considerados secretos e misteriosos para o povo. 

Com o Renascimento, o aumento do comércio, a difusão das línguas vernáculas e o uso do papel, surgem os intelectuais e a administração central cria a rede de arquivos, surgindo a necessidade de “informar-se”. Com esse crescimento também surgem a necessidade da descrição documental, para possibilitar a intermediação entre o arquivo e o usuário em nível acadêmico, nascem, então, os primeiros expedientes numerados e um quadro de classificação rudimentar.

Mas, os arquivos do início da Idade Moderna serviam exclusivamente para guardar os documentos, como instrumentos da administração, os quais eram utilizados somente para interesse do governo (arquivos reais). Os arquivos, portanto, são nacionais e públicos, com historiadores e construtores da identidade do Estado-nação. Essa ideia de arquivo prevaleceu até o final do século XVIII.  

Ao final vem a preocupação de se estudar os princípios teóricos fundamentais nas escolas especializadas de formação, pois devido à centralização, foram necessários ajustes metodológicos, culminando no estudo e definição da rotina arquivística. 

Na Idade Contemporânea, com a ampliação do domínio dos arquivos, já se evidenciam duas funções distintas: a gestão de documentos administrativos e a administração de documentos históricos permanentes, que, mais tarde culminaria no conceito de arquivística integrada .

Hoje os arquivos têm o objetivo de tratar os documentos desde a sua gênese, acompanhando todo o seu desenvolvimento na organização, para cumprir a função de produzir a informação, totalmente direcionada aos usuários e servindo à sociedade.

A Arquivística como ciência remonta do século XIX, como ciência auxiliar da história, paralela ao desenvolvimento das ciências históricas e com a criação das primeiras escolas de arquivistas, utilizando ciência e técnica para se desenvolver, apoiando-se em suportes científicos e de outras ciências, para construção paulatina de uma ciência própria.

A partir do século XX, há uma abertura em relação à atuação dos arquivos, que servem tanto à administração, como aos cidadãos e pesquisadores, consolidando o conceito de arquivística integrada.




Foto de Filipe Araújo/AE
Prédio é revestido para proteger material dos raios solares e do calor


Conforme o contexto em que eram inseridos, os arquivos foram evoluindo e se transformando, sempre contribuido para o entendimento da história e da sociedade.

CRUZ MUNDET, José Ramón. Manual de archivística. 3. ed. Madrid : Fundación Germán Sánches Ruipérez, 1994.

sábado, 9 de junho de 2012

Dia Internacional dos Arquivos


Comemora-se hoje, 09 de junho, o Dia Internacional dos Arquivos (International Archives Day), em homenagem a fundação do Conselho Internacional de Arquivos, pela UNESCO, em 1948. A data foi instituída em Novembro de 2007, por ocasião da Assembleia Geral do CIA, em Quèbec, com o objetivo de chamar a atenção para o desenvolvimento de ações de promoção e divulgação da causa dos arquivos, inclusive da profissão.



É um dia para ensejar a reflexão pelas autoridades, quanto às ações necessárias para modernização, para soluções de preservação e de transcodificação, para análise da forma de acesso e da preservação e assinatura digital... são tantas as questões, que carecem ainda de muito debate e consenso.

Fazemos arquivo todo dia, tanto as pessoas naturais como as jurídicas emanam documentos, o crescimento é gradual, é cumulativo, não intencional, é próprio da atividade de quem os criou.

A massa documental é fundamental para servir à administração, às necessidades de informação e pesquisa do cidadão, de prova em juízo e, a longo prazo, para contar a história. Portanto, tanto como caráter informativo, probatório ou histórico, percebemos a necessidade de manter o que é necessário para atender a essas finalidades e, de descartar, de forma consciente e apropriada, o que é passível de eliminação, sem prejuízo às demandas já mencionadas, pois, do contrário, a massa de documentos assume condição não controlável, confundindo e colocando em risco os interesses.

A análise do que deve ser preservado e daquilo que pode ser eliminado é efetuada mediante a leitura e interpretação do documento junto ao contexto de sua criação. Entra em cena a Tabela de Temporalidade Documental (TTD) que, segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística, é o "Instrumento de destinação, aprovado por autoridade competente, que determina prazos e condições de guarda tendo em vista a transferência, recolhimento, descarte ou eliminação de documentos".

Mas, voltando à comemoração, destaco abaixo duas instituições arquivísticas públicas.

O Arquivo Nacional, criado em 1838, que centraliza o Sistema de Gestão de Documentos de Arquivos-SIGA, da administração pública federal e é parte integrante da estrutura do Ministério da Justiça, que:

"Tem por finalidade implementar e acompanhar a política nacional de arquivos, definida pelo Conselho Nacional de Arquivos - Conarq, por meio da gestão, do recolhimento, do tratamento técnico, da preservação e da divulgação do patrimônio documental do País, garantindo pleno acesso à informação, visando apoiar as decisões governamentais de caráter político-administrativo, o cidadão na defesa de seus direitos e de incentivar a produção de conhecimento científico e cultural."

Foto 1 - Arquivo Nacional (RJ)
 
 Fonte: Divulgação/Arquivo Nacional


Destaco, em nível Estadual, o Arquivo Público do Estado do Ceará, já cadastrado junto ao CONARQ como BR CEAPEC (Cadastro Nacional de Entidades Custodiadoras de Acervos Arquivísticos), que tem como missão "Recolher e conservar todos os documentos manuscritos e papéis concernentes à administração pública estadual, com o objetivo de garantir o acesso ao público".

O Arquivo mantém acervo composto basicamente por documentos textuais e cartográficos, a partir do século XVI aos dias atuais do setor público e privado.


Foto 2 - Arquivo Público do Estado do Ceará


Na esfera privada, ressalto o trabalho da empresa MRH Gestão de Arquivos e Informações, da qual faço parte como bibliotecária analista de projetos de arquivo, que desenvolve projetos de gestão documental junto às empresas públicas e privadas, oferecendo toda a infraestrutura adequada, para a guarda terceirizada dos seus arquivos.


 Foto 3 - MRH Gestão de Arquivos e Informações
 
Fonte: Manual da Qualidade MRH Gestão de Arquivos e Informações


Vivam os arquivos!
Parabéns a todos os profissionais que atuam na área! 

sábado, 19 de maio de 2012

“Lei de Acesso à Informação”: Brasil transparente





A Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011, entrou em vigor em 15/05/2012, que dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal.

A “Lei de Acesso à Informação” como está sendo denominada, permite literalmente ao cidadão o acesso à informação junto aos três poderes públicos, enquadrando-se também, as entidades privadas sem fins lucrativos que recebem recursos públicos.

O advento dessa Lei traz à tona questões pertinentes à esfera arquivística, tanto pela revogação de alguns dispositivos da Lei de Arquivo (Lei 8.159/1991), no tocante ao acesso e ao sigilo dos documentos públicos, como pelas definições que constam no art. 4º, necessária à compreensão dos termos técnicos da área:

Art. 4o Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - informação: dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;
II - documento: unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato;
III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado;
IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural identificada ou identificável;
V - tratamento da informação: conjunto de ações referentes à produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transporte, transmissão, distribuição, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação, destinação ou controle da informação;
VI - disponibilidade: qualidade da informação que pode ser conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas autorizados;
VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado indivíduo, equipamento ou sistema;
VIII - integridade: qualidade da informação não modificada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino;
IX - primariedade: qualidade da informação coletada na fonte, com o máximo de detalhamento possível, sem modificações.

Além da Arquivística, a Tecnologia da Informação também é convocada à participação, quando no art. 8º, § 2º, torna "obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet)."

Muito trabalho há pela frente, na própria esfera administrativa dos órgãos, como também nessas áreas citadas, a demanda aumentará e os servidores e profissionais envolvidos terão que estar prontos para o atendimento ao cidadão, que agora, mais do que nunca, se reveste de direitos para obter a informação desejada. O art. 9º define:

Art. 9º O acesso a informações públicas será assegurado mediante:
I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos e entidades do poder público, em local com condições apropriadas para:
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a informações;
b) informar sobre a tramitação de documentos nas suas respectivas unidades;
c) protocolizar documentos e requerimentos de acesso a informações; e
II - realização de audiências ou consultas públicas, incentivo à participação popular ou a outras formas de divulgação.

 
Além do acesso à informação, a Lei enfoca a questão da cultura e prática da transparência, muitos órgãos já atuam nessa linha, mas há aqueles que terão que se ajustar, senão serão  enquadrados no sentido literal da palavra.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um (dois) retrato(s) e dois contextos arquivísticos

"Após séculos, farsa sobre retrato de mulher de Lincoln é revelada

Segundo especialistas e restauradores, retrato de Mary Todd Lincoln e a comovente história por trás da pintura são falsos

The New York Times | 20/02/2012 07:01


Durante 32 anos, um retrato de Mary Todd Lincoln, ex-primeira-dama dos EUA de 1861 a 1865, esteve pendurado na mansão do governador em Springfield, Illinois, assinada por Francis Bicknell Carpenter, um pintor famoso que viveu na Casa Branca durante seis meses em 1864.



 

A história por trás da imagem era intrigante: Mary Todd Lincoln pediu que Carpenter secretamente pintasse o seu retrato para que ela pudesse fazer uma surpresa para o presidente, Abraham Lincoln (1861-1865), mas ele foi assassinado antes que ela tivesse uma oportunidade de dar seu presente.

Agora, segundo especialistas, aparentemente tanto o retrato quanto a história que está por trás dele são falsos.
 
A tela, que foi comprada pelos descendentes de Abraham Lincoln antes de ser doada à biblioteca histórica do Estado na década de 1970, foi revelada como uma farsa quando foi enviada para um restaurador para que fosse limpa, disse James M. Cornelius, curador da Biblioteca e do Museu Lincoln em Springfield. O museu pretende apresentar as suas conclusões em uma conferência no dia 26 de abril.
 
[...]
 
O retrato restaurado não será devolvido para a mansão do governador, disse Cornelius. A pintura original da mulher desconhecida deve ser pendurada na biblioteca de Lincoln. Ela perdeu a maior parte de seu valor (que estava assegurado valendo US$ 400 mil), disse, mas ainda vem com uma história intrigante. E essa história tem a vantagem de ser verdadeira."

Por Patricia Cohen



Depois de ler a matéria completa é possível tecer alguns comentários acerca dos eventos arquivísticos que permeiam nas entrelinhas.
 
A matéria e todo o seu contexto se revestem de um arsenal de informações e estão carregados de conceitos da Arquivista, do que seria, do que não foi e do que é, e assim constroem e reconstroem o contexto arquivístico dessa obra. De verdadeira, quando habitou por 32 anos a mansão do governador em Springfield, a falsa,  quando descoberta pelo conservador independente, especialista em obras de arte. 

O período em que arrastou com ela uma história acerca de sua concepção é tempo por demais para ser desprezado e não considerados os olhares, as atenções, a notoriedade, os cuidados e tudo mais que girou e se debruçou diante dessa suposta primeira dama.

Até então, considerado como verdadeiro, segundo a Arquivística, o quadro durante esse período manteve sua organicidade, respeitando o princípio da proveniência, ou seja suas ligações, relações e hierarquia com o agente produtor, a primeira Dama Mary Lincoln e, indiretamente, o Presidente Lincoln.

Com o advento da descoberta da fraude e redescoberta da imagem verdadeira, feriu-se o princípio da integridade, pois a obra foi "adulterada", isso se fizermos a leitura da imagem anterior que era pública. Ao mesmo tempo renasce um novo contexto arquivístico, uma nova história, agora, não mais de uma mulher importante, mas, de uma desconhecida. Portanto, neste caso, é retomada a ordem original da peça com suas características.

O quadro perdeu seu valor de mercado, no entanto, continua com uma história intrigante, que ganhará novos fatos, será objeto de novas especulações e terá uma nova leitura, dando novo rumo ao contexto arquivístico.

sábado, 24 de dezembro de 2011

A Figura de um arquivista em "1808"

O livro 1808, de Laurentino Gomes, dá ênfase à figura de um arquivista, Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, em vários trechos da obra. O personagem era funcionário da Real Biblioteca Portuguesa, que ficava no Palácio da Ajuda, em Lisboa, Portugal.

Segundo o autor, em 1807,  por ordem de D. João VI, foi incumbido de encaixotar os 600.000 volumes da referida Biblioteca, para embarcar junto com a Corte Portuguesa na frota que fugia do imperador francês Napoleão Bonaparte e atravessar o Atlântico, com destino ao Brasil.

Referido acervo somente foi despachado em 1811 em companhia do próprio Luiz Joaquim e foi a base para formar a atual Biblioteca Nacional.

A importância que é dada pelo autor a esse personagem é tanto pela sua participação e contribuição na construção do Brasil como país, como pelo fundo arquivístico que deixou como legado para a posteridade, rico em detalhes, permitindo que se conhecesse melhor a história dos dois países, Portugal e Brasil. 

No primeiro caso, O Arquivista Real, como foi chamado pelo autor no Capítulo 6 de sua obra, era responsável pelos manuscritos da Coroa Portuguesa, trabalhou como oficial da Secretaria de Estado dos negócios do Reino e como Encarregado da 'direção e arranjamento' das reais bibliotecas e, logo após a independência, tornou-se alto funcionário do governo do imperador Pedro I. Nesta função teve a oportunidade de registrar seu nome, como escriba, em vários textos burocráticos, inclusive na primeira Constituição do Império (1824) e na primeira lei de patentes (1830).

Além desse aspecto político-social, fazendo a leitura e considerando o contexto afetivo, creio que a maior contribuição se deu pelo fato de se converter ao Brasil, conforme capítulo 28, intitulado "A Conversão de Marrocos", quando muda sua opinião de repugnância ("...o pior lugar do  mundo, repleto de doença, sujeira, pessoas vagabundas, ignorantes e sem pudor.") e resolve ficar de bem, permanecendo no Brasil e divulgando suas maravilhas ("... um lugar bonito, acolhedor, de gente simpática e trabalhadora.").

No segundo caso, o autor ressalta as 186 cartas escritas por Marrocos ao seu pai e irmã, que permaneceram em Portugal, descrevendo as particularidades do Brasil, seu povo, seus costumes, a questão dos escravos, etc. Referido acervo foi preservado pelo pai na Biblioteca Real da Ajuda.

Além do Brasil em si, tamanha é a importância desses registros documentais, que o autor abre um novo capítulo, intitulado "O Segredo", para revelar um segredo, guardado por 200 anos, resgatado graças ao princípio da Arquivística de respeito aos fundos, mudando os rumos da história. Para conhecê-lo, só lendo o livro, excelente!


sábado, 16 de julho de 2011

Lugar de Kennedy é com Kennedy!

Circulou na quinta-feira última, 14 de julho, em diversos endereços na rede, a notícia "Família Kennedy avalia lugar de Robert na biblioteca presidencial".

O teor principal da matéria no Ultimosegundo.ig, que se repete na íntegra em vários sites, é:

"Parentes não sabem onde colocar 63 caixas de arquivos de Robert Kennedy, que foi senador e procurador geral dos EUA.
Conforme os arquivistas da Biblioteca Presidencial John F. Kennedy, em Boston, se preparam para tornar públicas 63 caixas de documentos e trabalhos de Robert F. Kennedy, os integrantes da sua família estão pensando sobre onde eles devem ser colocados e considerando mudá-los de local por acreditarem que a biblioteca presidencial não fez o suficiente para honrar o legado do irmão mais novo".

Faltou acrescentar à matéria algo que pudesse promover uma discussão de conteúdo em relação à temática científica que envolve a questão, se tivesse ocorrido, talvez o rumo das decisões fosse outro.. Temática? Mas, qual temática?

Por trás das questões familiar, social e política, há a questão científica. Em se tratando de arquivo, sabemos que devemos seguir os princípios da Ciência Arquivística (proveniência, organicidade, indivisibilidade, cumulatividade), pois, do contrário, o arquivo é descaracterizado, quebrando as interrelações entre os documentos, comprometendo a compreensão dos fatos. Os documentos de arquivo trazem a informação registrada, que foi produzida ou recebida por pessoas ou organizações, no decurso de suas atividades, sejam públicas ou privadas. Essas informações se acumulam em uma ordem natural e, somente dessa forma, mantendo a sua originalidade, é possível fazer a leitura, compreendê-las e estudá-las, com vistas à elucidação dos fatos.

Mesmo sem ter acesso a esses documentos, podemos concluir que registram detalhes da passagem pública do Senador na vida social e política dos Estados Unidos. Talvez, mesmo se pessoais, também façam parte de um contexto maior e, por isso, não podem ser isolados e encaminhados para custódia em outra instituição. Além do que, levando-se em conta a Família Kennedy, que em si já era um clã político, a atuação de Bob Kennedy no cenário estadudinense foi diretamente ligada a do seu irmão JFK. Bob era conselheiro do presidente daquele país, John F. Kennedy.


Essas 63 caixas não podem somente por elas mesmas contar uma história com sentido completo e, por outro lado, devem estar fazendo falta às demais já sob custódia da Biblioteca Presidencial, portanto, reunidas, irão compor um todo mais compreensível que, com certeza, contribuirá muito mais para a pesquisa e história do país. 

Vamos torcer para a reunião desse acervo, os pesquisadores e a Arquivística agradecem.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

No limite dos dois extremos: "arquivar no lixo" ou "guardar para sempre".

Deparamo-nos ainda com essa realidade nas empresas, se de um lado há os extremistas com ojeriza a documentos, que tendem a eliminar tudo, indiscriminadamente, temos do lado oposto os que são por demais precavidos e receosos, que tudo guardam, gerando uma massa documental infindável. 

Para aqueles o fim do ano é justificativa suficiente para eliminar o arquivo do ano que passou e iniciar o ano com os armários vazios, prontos para acolher a nova documentação orgânica a ser gerada/recebida. Não se atentam que a documentação de dezembro do ano que findou ainda não fez um mês.

Para os exagerados por segurança, conclui-se que o são para provar o que fizeram na administração, mesmo que o fato já seja desprovido de valor fiscal/legal. Nada como a aplicação do bom senso, a leitura correta dos documentos para concepção de uma boa tabela de temporalidade para conduzir a destinação desses documentos, a maioria deles não legisláveis, ou seja, não possuem legislação específica nem correlata para indicar objetivamente o tempo de guarda.

Nem "arquivar no lixo" nem "guardar para sempre", obrigatoriamente. Há um meio termo, há o equilíbrio, há a construção da Tabela de Temporalidade, que se bem elaborada, validada, aplicada e sempre revisada, respeitando o contexto orgânico, resulta no controle da massa documental, com o descarte consciente e formal e com a guarda do que tem que ser preservado pelo tempo necessário.

Na sua empresa já foi elaborada a Tabela de Temporalidade? Contrate o profissional da área que ele tem competência para fazê-lo e a empresa só tem a ganhar.