sábado, 24 de março de 2012

Chico Anysio e um acervo para catalogar, classificar e indexar





Tantas estão sendo as homenagens para o Cearense Chico Anysio, todas muito bem merecidas, sabemos da importância dele para o cenário artístico e cultural do país, com repercussão, inclusive, no exterior.

Humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor, destacou-se principalmente pela criação de uma coleção de personagens. A leitura que faço desses personagens é a de um contexto carregado de  estereótipos da nossa sociedade, que representam, nada mais, nada menos, os tipos que nos deparamos por aí.

Quem não se divertiu com esses personagens? Creio que cada um tinha o seu preferido. Eu tinha o meu, Alberto Roberto, o máximo do excesso!



Tomando esse contexto, faço aqui minha homenagem, típica de bibliotecária, porque vejo na sua produção artística um acervo rico e multifacetado para ser catalogado, classificado e indexado, um verdadeiro laboratório para a Biblioteconomia. É óbvio que o Cedoc da Rede Globo já o fez com excelência e qualidade, utilizando todos os recursos tecnológicos e informacionais de que dispõe, registrando nos arquivos da televisão, desde sempre e para sempre, toda a sua trajetória.

Quero enfatizar que, se analisarmos todos os personagens e tipos criados por essse mestre do humor, vemos que é possível utilizar esse acervo para trabalharmos diversas questões da Biblioteconomia, haja vista a riqueza do acervo.
 
 
Para iniciar, com certeza uma remissiva devemos usar. Aprendemos que Chico Anysio é a alcunha usada como entrada principal, no catálogo de autor, para Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o velho Chico Total.

Adentrando nos personagens, usando a alfabetação, iniciamos por Albarde, Alberto Roberto, Apolo, Azambuja e continuamos com Baiano, Bento Carneiro e Bicão, todos os nomes inclusos como assuntos principais.

Buscando palavras-chave e descritores, para completar a catalocação, investimos em políticos, machões e sofredores.

Para ampliar e facilitar a busca, a indexação pelos nomes dos principais programas é fundamental: Chico City, Escolinha do Prof. Raimundo, Chico Anysio Show, Chico & Amigos e Chico Total.

Necessário se faz mencionar a miúdo os jargões de cada um, talvez como nota de conteúdo.

E para criar um índice por assunto em torno dos personagens, nos deparamos com futebol, jornalismo e política, profissões, religiões e vantagens. Como representantes desses temas, seguem: Bozó, Canavieira, Divino, Gastão --  Jovem, Meinha, Pantaleão e Quem-Quem.

Enfim, um estoque de nomes, de charlatão estrangeiro, como Tim Tones, a político brasileiro, com uso das letras do alfabeto inteiro, para criação de um índice onomástico: de Albarde a Zelberto Zel, simplesmente fantástico!




Vá em paz Chico Anysio!
Você já foi catalogado, classificado, indexado e, sobretudo, apreciado.
Está garantido às gerações vindouras, conhecer a inteligência e o legado do humorista cearense.

segunda-feira, 19 de março de 2012

"Ler, pensar e escrever"

Mais uma obra sobre leitura, pensamento e escrita e que obra! Desta vez contemplando a sequência das ações, criando valor agregado.

Se fizermos a leitura do próprio título, vimos que o autor sugere um processo. Processo a princípio linear em cadeia, mas, que, com certeza, culmina na circularidade, afinal quem leu, pensou e escreveu, se de fato quer crescer como "ser da palavra", como chama o autor, haverá de ler mais, pensar mais e escrever mais.




Transcrevo abaixo um trecho bem introdutório, que por si só, já vale o livro e um mundo para reflexão, objeto da fundamentação do que escrevi acima.
[...] ler (uma sílaba), pensar (duas sílabas) e escrever (três sílabas). Como se a cada etapa avançássemos um passo, transbordássemos um pouco mais. A leitura, a reflexão, a escrita. A busca, a assimilação, a produção. A recepção ativa, a elaboração de um sistema pessoal de convicções, o compartilhamento.
O autor destina cada capítulo a uma das três ações do processo, explorando vários aspectos envolventes dentro de cada contexto, fazendo o leitor exercer em cada um deles, o próprio título do livro: Ler, pensar e escrever.

Eu já li, pensei e escrevi.

Fica aqui o convite tara Ler, pensar e escrever, com Gabriel Perissé.



PERISSÉ, Gabriel. Ler, pensar e escrever. 5. ed. rev. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011. 91 p

domingo, 11 de março de 2012

Dia do Bibliotecário


O mercado é seu!

Nunca tantas portas se abriram de uma só vez, a profissão hoje é por demais eclética, adaptável a diversos contextos e, por isso, requisitada nos mais variados segmentos.

Vira e mexe e lá está ela, quem?
A informação, nossa matéria prima de trabalho, claro que antes já fizemos o básico, ou seja, já tratamos os dados, para que virassem essa tal informação e agora é fazer com que esta chegue em tempo hábil aos usuários.

E qual segmento não utiliza informação, você conhece?
Todos têm essa necessidade, vive-se de informação, sobretudo daquela para gerar conhecimento e para a tomada de decisão.

Além do imenso mercado de bibliotecas, que surge em função da Lei 12.244/2010, há um leque daqueles com inúmeras varetas, em que cada uma exige uma habilidade peculiar do bibliotecário.  Portanto, vem muita brisa por aí... Temos que estar a postos para responder a essa demanda da sociedade.

E fazendo a leitura desse contexto, percebe-se que o bibliotecário, tanto pode ser um ás pelo que faz, como um coringa, que chega em boa hora e se associa a qualquer profissional, criando valor agregado. O importante é que, no meio a tantas cartas, desembaralha e resolve a questão.

Parabéns a todos os bibliotecários! Tenho orgulho de pertencer à classe.

"Se tens um jardim e uma biblioteca, tens tudo."
(Marco Túlio Cícero. Arpino-Itália 106 a.C. - 43 a.C. Formia-Itália)

Mas, antes disso, precisarás de um jardineiro e de um bibliotecário.
(Ana Luiza Chaves - Fortaleza-CE-Brasil - março/2012)




quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher


 
M uralha
U nida (ao)
L eme
H eróico
E manado (da)

R adiação (de Deus)

por Concita, minha mãe,
A quem parabenizo neste dia,
Com a sua própria poesia,
Que reflete a força da mulher.
Para o que der e vier!

Publicada originalmente no Blog de sua autoria Poesiadomeujeito

domingo, 4 de março de 2012

Raízes


Resgatar as raízes da família para contar a história e assim preservar a memória, é simplesmente maravilhoso!

Encravada em terreno de quase 5.000 m2, localizada na Av. João Pessoa 4149, a casa foi palco do nascimento e desenvolvimento da família Chaves. Lá foram fincados e registrados os momentos de convivência, de educação e de toda a existência dessa família, de quem herdei o sobrenome, pelo enlace com o herdeiro mais novo.

A casa já não mais existe, mas, voltando à questão da preservação, foi oportuno o resgate de dois elementos característicos, duas placas metálicas que identificavam a residência dos Chaves, uma se referindo ao próprio patriarca, meu sogro que não conheci pessoalmente, Sr. Mario Chaves,  e a outra alusiva à condição de fé e de serviência ao próximo, praticada pelos progenitores, aqueles que deram origem à família, ressaltando-se a esposa daquele, minha sogra, a Sra. Lindalva Chaves.




Ambas foram representantes de momento singular na infância desse filho, também de nome Mario, que outrora participou da fixação dessas placas na parede frontal da casa, e, mais recentemente, pelo neto, Mário Victor, que acompanhado daquele, fez a retirada, com vistas à preservação.


Mariana, Mário César, Ana Luiza, Mário Victor e Mario Chaves, acompanhados dos queridos anfitriões, Daniel e Madrinha, em janeiro/1997.



Passados mais de sete anos da venda e da demolição da casa, tive a iniciativa de providenciar a restauração das referidas placas, para fixação na nossa residência, como respeito às raízes dessa família, da qual passei a fazer parte e que ajudei a perpetuá-la por intermédio dos meus três filhos, que levam no pré-nome, a marca da "dinastia".





Importante ressaltar, além da ideia da composição final, repassada para o Ateliê Coisas & Mosaicos, o trabalho primoroso e perfeito de restauração das placas, feito pelo historiador, especialista em história do Brasil/Ceará e restaurador, Armando Farias, meu irmão caçula, que herdou do nosso pai os dotes artísticos e a estes acrescentou tantos outros afins.

No meu jardim VII


Novidades no meu jardim!

Nova leitura do meu jardim, agora mais rico, novos frutos, novas flores, que mudaram o contexto habitual.

Novos frutos no pé de acerola (Malpighia emarginata ou Malpighia glabra).





O hibisco (hibiscus) de cor natural salmão claro, floresceu, naturalmente, híbrido, com uma das pétalas mescladas, em função da coloração do seu companheiro vizinho de cor vermelha. Verdadeira obra da natureza.







Depois de tempos... dois novos antúrios (anthurium) de cor rosa clara floresceram, para embelezar ainda mais o meu jardim.




 


espadinha de São Jorge (Sansevieria trifasciata), floresceu!




Biblio... o quê? Respondendo por metáforas


O Bibliotecário de Giuseppe Arcimboldo


A famigerada pergunta "biblio... o quê?", que demonstra a ignorância de muitas pessoas acerca do que é a Biblioteconomia, do que é a profissão de bibliotecário, vai ser respondida agora, momento oportuno, quando estamos nos aproximando de 12 de março, dia do Bibliotecário, dedicado a sua homenagem.




A classe é tão bem estruturada, contando com Conselho, Associação e Sindicato, com legislação que data de 1962 e tantos profissionais à frente de grandes postos de trabalho na esfera pública e privada, que é inconcebível admitirmos essa falta de conhecimento.

   




Pois bem, vamos fazer a leitura para entender seu contexto de trabalho.

Para quem não sabe, bibliotecário é como a água, ocupa o espaço do recipiente, se adaptando e entrando em ação, seja qual for o contexto: centros de informação e documentação, escolas, empresas, hospitais, universidades, etc., sabemos fazer a leitura para desenrolar, resolver, e disponibilizar a informação. Transformamos a informação que não está acessível, em possibilidades de busca e na sua consequente recuperação, portanto, somos uma espécie de ponte, que liga dois pontos, um tipo de canal, que conduz a um lugar...

Somos um grande dicionário poliglota, afinal falamos qualquer língua, porque de alguma forma, traduzimos e entendemos qualquer língua, não aquelas da Linguística, aliás essas também, vira e mexe temos que entendê-las a qualquer custo, inglês, francês, espanhol, em função da diversidade de obras que lidamos no dia a dia, mas, a língua a que me refiro é a forma de falar, de se expressar de cada usuário. Alguns deles, na verdade, não têm definido na cabeça o que estão procurando e daí fazemos todo o processo de interação e comunicação, entendendo o contexto, extraindo essa demanda e transcodificando para as linguagens controladas que adotamos, chegando ao "X" da questão, consolidando, dessa forma, o serviço de referência.

Também somos um grande livro de tombo, que representa o patrimônio da biblioteca, isso porque conhecemos de cor e salteado as obras do nosso acervo, das mais antigas às mais novas, aquelas pela familiaridade e manuseio constante e estas pela efervescência dos dados e informações em tratamento e processamento técnico (tombamento, classificação, catalogação e indexação), título, autor, assuntos, editora, etc. Face a essa habilidade, podemos servir o nosso usuário de leituras e pesquisas apropriadas.

Falando ainda de livro, considero que também somos um grande livro de visitas, pelo conhecimento que temos de cada um de nossos usuários, dias de visita, lugares prediletos de sentar, horários, o que estudam, demandas e até o jeito de se portar no ambiente. 

E, por conhecê-los tão bem, somos uma espécie de especialistas em DNA, sabemos fazer a leitura de suas preferências de leitura e assim elaboramos a disseminação seletiva da informação (DSI)

E, que tal a analogia com uma lista telefônica? Aquelas do passado, impressas e bem  completas, porque sabemos em que estante/prateleira está cada publicação, pois tudo foi previamente endereçado (classificado/catalogado) pelo número de chamada. E, se for um documento eletrônico, também chegamos lá nos metadados, qual um cão farejador, aplicando a busca boolena.

Falando em busca, usando um termo da atualidade, somos um buscador, exatamente como aqueles da web, rastreamos e resgatamos tudo, aliás, com muito mais propriedade do que muitos deles, porque fizemos o trabalho certo de indexação, a leitura precisa dos termos e, quando percebemos alguma falha, vamos lá na nossa base e incluímos uma remissiva e/ou referência, acrescentamos mais palavras-chave, ou, conforme o colóquio atual, tags.

Recebemos também o título de arquiteto, quando se trata de arquitetura da informação,  porque estruturamos e representamos a informação em banco de dados, sistemas ou em design de softwares.

Somos um abecedário, um conjunto dos números naturais em ordem crescente, porque estamos sempre em ordem. Organização é a ordem! Mas, queremos que os usuários mexam e remexam nas obras, o contato com elas é saudável, agrega valor, paradoxal? Não, normal! A tarefa é organizar e indexar para facilitar a busca.

Considero também que somos uma isca, pois sempre estamos criando argumentos para fisgar mais leitores, atuamos como facilitadores e incentivadores da leitura, seja por intermédio de campanhas, banners, anúncios, blogs, e-mails ou projetos específicos.

Também somos uma espécie de post it, que comunica, lembra  e divulga o material recém-chegado na biblioteca, para todos os usuários, atividade essa, tecnicamente denominada de serviço de alerta.

Internacionalmente falando, somos um Muro de Berlim, claro e evidente, que depois da queda, nossas bibliotecas não têm mais paredes, a informação está em qualquer lugar, ou em nenhum lugar, se considerarmos o virtual, a computação em nuvem de agora, o importante é que conseguimos trazê-la e reuni-la, deixando-a acessível e disponível em tempo hábil.

Para os pesquisadores em plena atividade de trabalhos acadêmicos, somos a luz no início, no meio e no fim do túnel, porque além de padrão, quando representamos a norma, somos como um anjo da guarda, ao desempenhar o papel de um orientador ad hoc, durante a caminhada do orientando em busca da titulação.

Nas bibliotecas escolares, somos a tia e o tio, porque, sobretudo, somos educadores. Assim como no âmbito do curso de Biblioteconomia, quando atuamos como professores das disciplinas.

Para finalizar e com a permissão da marca, temos a alma de Bombril, com mil e uma utilidades, óbvio que considerado o nosso contexto, tentamos resolver todo tipo de demanda de pesquisa e informação que chega à biblioteca, fazendo a leitura técnica e, mesmo não dispondo dela no momento, corremos em busca de socorro, contando sempre com a ajuda de outro colega de profissão.

Metáforas à parte, creio que já deu para perceber, além dos conhecimentos técnicos e naturais da atividade, os diversos conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA), inerentes ao bibliotecário, utilizados para desempenhar sua função com excelência e qualidade.

Bibliotecário pode atuar em qualquer segmento, porque se há informação em todo lugar, há motivo para ele estar lá.

Encerro por aqui, mas, deixo em aberto o texto para ser completado por qualquer profissional bibliotecário, que tenha mais sugestões e queira ampliar esta lista, quem sabe ela chega realmente às mil e uma metáforas.

Se depois disso tudo ainda não deu para entender o que fazemos, paciência... compareça a uma biblioteca e seja atendido por um de nós, ok? Dai você vai dizer:

-- "Você é bibliotecário e mais o quê...?"






segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore



Obras primas são para ser apreciadas e reapreciadas, afinal, a cada leitura se percebe algo a mais, um novo contexto ainda não explorado, é isso o que acontece quando assistimos ao curta "Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore", uma animação sensível, profunda, mágica, reflexiva e por demais fabulosa.

Dirigido por William Joyce e Oldenburg Brandon e indicado ao Oscar 2012, este curta-metragem francês é realmente uma fábula dos tempos atuais, com todos os recursos tecnológicos de animação. Livros voam, dançam, conduzem e transformam pessoas, para que estas façam também a sua parte, dando-lhes vida, conservando o corpo e a alma de cada um deles, colocando-os nas mãos certas, para que sejam multiplicados e divididos :
  1. Os livros são para serem usados; 
  2. Todo leitor tem seu livro; 
  3. Todo livro tem seu leitor; 
  4. Poupe o tempo do leitor; 
  5. Uma biblioteca é um organismo em crescimento.
Apesar de lúdica, a obra pode (e deve) ser utilizada como recurso didático para aprendizado, em muitas áreas, na sociologia, na literatura, na pedagogia, na psicologia, na filosofia e, como não poderia deixar de ser, na Biblioteconomia, em que podemos perceber as 5 leis de Ranganathan já citadas acima e em outra postagem.

A leitura que faço é a de um mundo que se transforma, que fica colorido com a passagem dos livros voadores (leitura, escrita, informação e conhecimento); de uma ciência e ofício de cuidar dos livros (Biblioteconomia) e da casa dos livros (Biblioteca), que sobrevive e passa de geração em geração e de um personagem incumbido de servir à comunidade (Bibliotecário).









Finalizo afirmando que, se tudo pudesse ser retribuído em livros..., o mundo seria uma grande biblioteca.

Eu votaria nele. Vale a pena assistir!



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Paradigmas! Questão de contexto.


Quais os paradigmas da atualidade, da sociedade, da ciência e dos homens?




Eu diria que variam, conforme a leitura e o contexto. E a reflexão dos autores não cabe somente na ciência administrativa.


Assim, por mais criticáveis que algumas teorias administrativas possam nos parecer hoje, na época em que foram criadas, elas certamente pareciam ser o que havia de melhor -- e por isso foram adotadas e praticadas. Elas eram consoantes com a realidade em que forma criadas: seu histórico, seu contexto político-social, seu nível de comunicações. E, graças a elas, o conhecimento administrativo pôde evoluir.(1)



Vemos que no Direito as leis se formaram a partir do surgimento da sociedade e foram sofrendo alterações, conforme sua evolução, conforme os costumes do povo. Portanto, impossível seria aplicar uma lei para o passado, pois este já seguia e pertencia a um contexto.

Da mesma forma ocorre em outras ciências, que avançam a partir de várias hipóteses, experiências e teorias, umas refutando ou confirmando outras e assim caminha o conhecimento da Humanidade, ninguém parte do zero, o a priori existe, precisa fazer a leitura, e é de lá que evoluem as coisas, de onde um parou, o outro dá continuidade ou recomeça.

___________
(1) FERREIRA; A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias: evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Thomson Leraning, 2006. p.13.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nossa vida medida em hertz


Hoje, dia 22/02, o Google homenageia Heinrich Hertz, no seu 155º aniversário, físico alemão responsável pela descoberta da existência de ondas eletromagnéticas, em 1887, cuja teoria mais tarde fundamentou o desenvolvimento do telégrafo, do rádio e da televisão, ampliando a forma de comunicação e aproximando os povos.

O hertz, como ficou conhecida a medida que se refere a um ciclo por segundo, está representado pelo doodle abaixo e, antes que essa imagem ilustrativa e comemorativa saia do ar, me senti na obrigação de postar algo neste espaço de leitura e contexto.













Ocorreu-me de fazer a leitura da imagem em movimento e percebê-la como os ciclos de nossas vidas, que dançam ao longo da linha do tempo, coloridos, às vezes mais vivos, outras vezes mais apagados. Vida cheia de altos e baixos, por vezes períodos mais longos, outras vezes mais curtos. Se soubermos fazer a leitura certa de cada um deles, tirando exemplos e aproveitando as lições de cada contexto, para aplicarmos nos próximos ciclos que virão, com certeza estaremos cumprindo os desígnios da vida e mais maduros e preparados ficaremos para enfrentar o desconhecido vindouro, seja um mega-hertz ou um giga-hertz.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um (dois) retrato(s) e dois contextos arquivísticos

"Após séculos, farsa sobre retrato de mulher de Lincoln é revelada

Segundo especialistas e restauradores, retrato de Mary Todd Lincoln e a comovente história por trás da pintura são falsos

The New York Times | 20/02/2012 07:01


Durante 32 anos, um retrato de Mary Todd Lincoln, ex-primeira-dama dos EUA de 1861 a 1865, esteve pendurado na mansão do governador em Springfield, Illinois, assinada por Francis Bicknell Carpenter, um pintor famoso que viveu na Casa Branca durante seis meses em 1864.



 

A história por trás da imagem era intrigante: Mary Todd Lincoln pediu que Carpenter secretamente pintasse o seu retrato para que ela pudesse fazer uma surpresa para o presidente, Abraham Lincoln (1861-1865), mas ele foi assassinado antes que ela tivesse uma oportunidade de dar seu presente.

Agora, segundo especialistas, aparentemente tanto o retrato quanto a história que está por trás dele são falsos.
 
A tela, que foi comprada pelos descendentes de Abraham Lincoln antes de ser doada à biblioteca histórica do Estado na década de 1970, foi revelada como uma farsa quando foi enviada para um restaurador para que fosse limpa, disse James M. Cornelius, curador da Biblioteca e do Museu Lincoln em Springfield. O museu pretende apresentar as suas conclusões em uma conferência no dia 26 de abril.
 
[...]
 
O retrato restaurado não será devolvido para a mansão do governador, disse Cornelius. A pintura original da mulher desconhecida deve ser pendurada na biblioteca de Lincoln. Ela perdeu a maior parte de seu valor (que estava assegurado valendo US$ 400 mil), disse, mas ainda vem com uma história intrigante. E essa história tem a vantagem de ser verdadeira."

Por Patricia Cohen



Depois de ler a matéria completa é possível tecer alguns comentários acerca dos eventos arquivísticos que permeiam nas entrelinhas.
 
A matéria e todo o seu contexto se revestem de um arsenal de informações e estão carregados de conceitos da Arquivista, do que seria, do que não foi e do que é, e assim constroem e reconstroem o contexto arquivístico dessa obra. De verdadeira, quando habitou por 32 anos a mansão do governador em Springfield, a falsa,  quando descoberta pelo conservador independente, especialista em obras de arte. 

O período em que arrastou com ela uma história acerca de sua concepção é tempo por demais para ser desprezado e não considerados os olhares, as atenções, a notoriedade, os cuidados e tudo mais que girou e se debruçou diante dessa suposta primeira dama.

Até então, considerado como verdadeiro, segundo a Arquivística, o quadro durante esse período manteve sua organicidade, respeitando o princípio da proveniência, ou seja suas ligações, relações e hierarquia com o agente produtor, a primeira Dama Mary Lincoln e, indiretamente, o Presidente Lincoln.

Com o advento da descoberta da fraude e redescoberta da imagem verdadeira, feriu-se o princípio da integridade, pois a obra foi "adulterada", isso se fizermos a leitura da imagem anterior que era pública. Ao mesmo tempo renasce um novo contexto arquivístico, uma nova história, agora, não mais de uma mulher importante, mas, de uma desconhecida. Portanto, neste caso, é retomada a ordem original da peça com suas características.

O quadro perdeu seu valor de mercado, no entanto, continua com uma história intrigante, que ganhará novos fatos, será objeto de novas especulações e terá uma nova leitura, dando novo rumo ao contexto arquivístico.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

No meu jardim VI

Manhã de sol ainda fraco, com preguiça de sair, por volta das 7 horas, depois da aguação das plantas, eis que me deparo com um visitante ilustre no meu jardim. Ilustre, porque não havia sido visto antes, entre todos os visitantes bípedes, que frequentam meu jardim: bem-te-vis, rouxinóis, beija-flores, bicos-de lacre, andorinhas, sanhaçus, rolinhas caldo de feijão, sebites, lavandeiras, siriris, anuns brancos e pardáis.

Fiz rapidamente a sua leitura, cor predominante marrom, esbelto, gosta de ciscar, e, em função de pequenos e agéis movimentos, deixa aparecer nuances de cor amarelo rosado por debaixo das asas. Sabido, aproveitou-se daquele contexto de areia e folhagem molhadas para, com elegância, passear pelo chão, em pequenos saltos, ciscando daqui e dali, buscando algum petisco, depois subindo de galho em galho, até chegar no alto do jasmim manga e exibir toda sua performance em cor, forma e silhueta. 

Foram vários minutos, o suficiente para o registro de sua presença no meu jardim. Meio manso, talvez ainda um indivíduo jovem, tranquilo e silencioso, aproximou-se, voou um pouco baixo e ainda permaneceu por ali cerca de uma hora, quando resolveu partir.

Na manhã seguinte esperei, mas, ele não retornou. Fiquei pensando... será que foi capturado? Será que seguiu seu caminho?

Não sabia quem era, parecia um sabiá.
Será?
Quem sabe... um dia ele saiba voltar e venha me visitar.








domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma escola à frente dos tempos


Ficha técnica

Nome: Escolinha O Cogumelo
Ano de criação: 1971
Diretora: Pedagoga Maria da Conceição Farias
Linha educacional: Arte-educação, Educação criadora
Ano de encerramento das atividades: 1994




Em 1971, nasce em Fortaleza, precisamente no Bairro de Fátima, a Escolinha O Cogumelo. Uma escola prá lá de diferente, uma escola à frente dos tempos. Atuava com as classes de Maternalzinho, Maternal I, Maternal II, Jardim I e Jardim II, formando crianças para ingressarem na alfabetização. Nessa época,  o Maternal era objeto apenas das escolinhas menores, os colégios maiores não ofertavam vaga nesse sentido, somente depois, já nos fins dos anos 80, descobririam esse nicho de mercado, contribuindo para recheá-lo, as creches, que recebiam crianças de idade menor ainda.

Mas, voltando para O Cogumelo, uma das escolinhas de Fortaleza pioneiras nesse ramo, destacava-se pela forma diferente de tratar e ensinar as crianças, sempre utilizando a arte como recurso lúdico, para atingir o fim didático e pedagógico. Poesia, música, parlendas, desenhos, dança, expressão corporal, dramatização, recreação, teatro de fantoches, recorte e colagem,  contação de história, tudo era instrumento de aprendizado para a vida e também para se chegar ao conhecimento formal, aquele que era exigido para a classe posterior, a Alfabetização.

Os brinquedos utilizados eram todos diferentes, nada de coisa pronta, fechada, tudo tinha que ter a participação e a criatividade da criança. Parquinho? Tinha sim, mas, todo projetado artesanalmente e artisticamente (a arquitetura e a pedagogia se uniam em corpo e alma), visando explorar a coordenação viso-motora -- ladeiras e degraus, para subir e descer; pontes, para passar e se equilibrar; pneus coloridos (aqui cabe ressaltar o pioneirismo absoluto), para fazer caminho de obstáculos; anéis de cacimba, para servir de casinha e abrigo; areia, muita areia de praia, para brincar e se sujar. Tampinhas, frascos vazios, pazinhas, baldes, muitos utensílios para brincar na areia. E as mães perguntavam: Tem parquinho? E eram mostrados esses brinquedos e elas se admiravam pela excentricidade. Algumas não entendiam e pelo menos um brinquedo tradicional deveria existir para "iludir" e não sair do esquema.

Os alunos, tão pequeninos! Alguns com questões para serem tratadas, que logo eram identificadas pela proximidade e atendimento individualizado dispensado a cada um. Nenhum era evidenciado ao ponto de colocar a criança na berlinda, em situação constrangedora, e sim compartilhado de forma anônima, como lições para a vida. Uma criança não sabia se defender, outra não conseguia se alimentar sozinha, uma se apavorava ao sujar a roupa ou as mãos, tinha uma com medo de ir ao banheiro, outra ainda que não sabia conviver em grupo... e tantas outras situações, que eram contornadas, corrigidas e superadas em sua totalidade, sempre em grupo, com a simples contação de uma história, com a elaboração de uma poesia específica ou por intermédio da expressividade em desenhos.

Desenhos livres que utilizavam vários tipos de lápis, tintas, papéis e suportes, que depois de prontos, eram narrados pelos alunos, uma forma de exercitar a leitura, a escrita, a expressividade e a comunicação oral . Para reuni-los, colecioná-los, nada de capa de trabalho pronta, pré-desenhada, só para colorir, as capas eram por demais trabalhadas, cada criança fazia a sua composição, conforme o motivo do contexto.

E falando em leitura, também existia uma biblioteca, dotada de livros apropriados para cada classe, Maternalzinho, Maternal I, Maternal II, Jardim I e Jardim II, todos os alunos já eram incentivados nessa atividade, inclusive em relação à concentração, ao comportamento, ao respeito aos livros e ao ambiente. É claro, que todos eles ainda não sabiam ler por palavras, entendendo e acessando os  códigos silábicos e alfabéticos, o nosso léxico, mas, já liam as gravuras, entendiam a sequência da história e criavam também suas próprias histórias, a partir da interpretação particular que faziam, da leitura pelo olhar de cada um. E tudo isso gerava uma discussão sadia, em que uns falavam com os outros trocando ideias e pontos de vista, pois cada um criava o seu contexto.


O negrinho do pastoreio querendo pegar uma fruta.
Mário Victor - 5 anos (20/08/1987)


O circo e o palhaço. O elefante fugiu e o palhaço trouxe de volta
Mário Victor - 6 anos (24/05/1988)


O índio
Mariana - 3 anos (17/05/1989)


A menina saiu da casa e deixou a porta aberta, ai o cachorro entrou para comer o bolo e o biscoito da menina.
Mariana - 4 anos (06/11/1990)


Ecologia, amor e cuidado com a natureza, temas que só viriam a ser falados pelas autoridades governamentais já nos fins dos anos 80 e no colóquio diário da sociedade, somente no decorrer dos anos 90, eram praticados com naturalidade na Escolinha O Cogumelo. Ficar em silêncio e ouvir o barulho dos pássaros, abraçar uma árvore e sentir a sua fortaleza, usufruir de sua sombra e de seus frutos, colhidos na mão e depois saboreados, sentir o cheiro das folhas, flores e frutos. Plantar e regar um projeto de árvore, sim, era dessa forma que se passavam os ensinamentos, pois ela só se tornaria adulta ao ponto de oferecer tudo aquilo se fosse regada e cuidada.

Civismo e amor à pátria, com o respeito incondicional à bandeira do Brasil, ao Hino Nacional, às raízes brasileiras, era matéria diária no contexto das manhãs. O 7 de Setembro era comemorado com o desfile interno, todos com a farda impecável, com algum distintivo alusivo à pátria e conduzindo a bandeirinha do Brasil.


7 de Setembro 1988


As  atividades diárias ressaltavam o folclore, as lendas, os costumes, as brincadeiras de outrora, do tipo: passa o anel, três, três passarás, chicote queimado, tá pronto seu lobo? Muita recreação, muita liberdade e toda hora era hora de ensinar, brincando e aprendendo -- azul, amarelo, vermelho, verde; a, e, i, o, u; pequeno, grande; maior e menor; alto e baixo, 1, 2 e 3..., cada criança, no seu ritmo, assimilando o que podia.

As datas marcadas pelo calendário eram todas muito bem comemoradas na Escola, a começar pelo carnaval e a páscoa seguidas pelas demais ao longo do ano, com ênfase para as duas festas semestrais, o São João,  que fechava o quarteirão da Rua Manoel Padilha, a cada ano mais famoso, e a festa de confraternização de final de ano, com a formatura dos doutores do A - E - I - O - U. Também se faziam passeios, uma espécie de lazer orientado, sempre em alusão a algum ensinamento ou comemoração.


Interior do ônibus de passeio
outubro/1988


Brincar de gente grande era um momento especial, cada um representava alguém.
- Eu sou o pai!
O outro gritava:
- Hoje eu sou o filho!
Precisavam de carteiras, gravatas, cintos, relógios para assumirem tal papel.
E as meninas queriam ser a mãe, a professora, a filha e trajavam-se e adornavam-se  usando bolsas, pulseiras, brincos e tudo isso era solicitado na tal lista especial de material, que às vezes não era entendida pelas mães, pois os outros colégios competiam entre si com o tamanho e diversidade da lista.

Questões de gênero eram representadas sem que isso fosse fortemente evidenciado, era apenas contextualizado e assim as crianças entendiam seus diferentes papéis sociais e os comportamentos relacionados aos homens e mulheres. A própria farda, idealizada para proteger o corpinho das crianças, já trazia essa ideia, quando se diferenciava na cor azul para os meninos e na vermelha para as meninas, sem que houvesse o tal machismo, pois as meninas tudo podiam em relação aos meninos e estes respeitavam a ideia depois de recebidas as orientações.
- Tia, mulher pode dirigir caminhão?
- Pode sim, ela tem mão, tem pé e tem cabeça para pensar.
- E jogar futebol?
- Também pode, ela sabe correr e chutar. 





Na sexta-feira, a farda era diferente, era dia de educação física e, apesar de uniforme, havia aquele detalhe diferente que individualizava cada um, o cogumelo estampado na camiseta, este podia ser à vontade, ao gosto do aluno. A brincadeira para aquecer o corpo era cantada ao som de "cabeça, ombro, joelho e pé".

Igualdade social e de raça, as lições eram passadas sutilmente, de forma bem leve, por intermédio de poesia, de música.

"Eu vi um pássaro preto, que voava assim, assim...
Eu vi um pássaro branco, que voava assim, assim..."
Parte integrante da poesia da Maria da Conceição Farias



Inclusão social, naqueles anos, não era assim chamada, até porque não se evidenciava como nos dias atuais, mas na Escolinha O Cogumelo sim, pois recebia naturalmente, sem que isso fosse exigido por lei, pela sociedade. Os alunos especiais em todos os sentidos eram todos integrados ao grupo, que sabia respeitá-los e os via como seres humanos iguais, com necessidades iguais, de brincar, de aprender, de correr, de comer...

Falando em comer, a hora da merenda era uma festa. Cada um saboreava o que sua mãe havia incluído na merendeira e se alguém não gostasse, era dado um incentivo, todos se envolviam naturalmente com aquele problema, que daqui a pouco já virava solução. Também havia os biscoitos mágicos da Escola (biscoitos comuns), que eram oferecidos em momentos especiais e todos adoravam incondicionalmente, e as mães queriam saber onde comprar tais biscoitos maravilhosos de tão comentados em casa pelas crianças.

Via-se o crescimento de todos eles em todos os sentidos, amadureciam, superavam limitações, aprendiam os conhecimentos repassados, tiravam suas conclusões e davam conta das lições necessárias para cumprir o currículo.  Quanta alegria, quando chegava o dia da festa do a - e - i - o -  u! Era a formatura da Escola, os alunos tinham que seguir o rumo da vida, a Escolinha O Cogumelo já dera sua contribuição.

Diploma do A-E-I-O-U
dezembro/1988


 


Contribuição também religiosa, mas, de forma ecumênica, como veio depois determinar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, mais uma questão à frente dos tempos.
  

Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)

Todos os que se formavam e deixavam a Escola eram submetidos aos testes seletivos dos outros colégios e sempre obtinham êxito e até a admiração, pois sempre era perguntado: Qual era a escola que ele(a) estudou?

E hoje,  mais alegria ao ver um ex-aluno bater à porta da casa que abrigou por mais de 20 anos a Escolinha O Cogumelo! Ou, que satisfação ao encontrar no shopping aquela criança já crescida, um jovem bem formado, e ouvir gritar o nome da tia tão querida:
- Tia Concita!
Que nos últimos anos já era chamada de Vó Concita, minha querida e admirada mãe, exemplo ímpar de educadora.

Pois é... eu que acompanhei e participei de tudo isso, que vi os frutos, que vi o resultado, me orgulho dessa obra, principalmente porque vejo tanta coisa acontecendo, sendo praticada somente de uns tempos para cá e eu fico a pensar... minha mãe já fazia tudo isso muito antes e com muita propriedade. Daí também me emociono ao ver um deles chamando e perguntando:
- Tia Ana! Lembra de mim?
Naquele contexto, eu nos meus 13 a 18 anos, se fizermos nova leitura, estava mais para colegas deles do que para tia, acho que também por isso a receita deu certo.

Bons tempos aqueles...